terça-feira, 19 de julho de 2011

A corrupção que emascula




Só depois do final do governo Lula, já com Dilma Rousseff tentando dar forma e respeitabilidade à gestão, passa-se a saber que a República em tempo algum atravessou, como acontece, um processo da mais depravada corrupção. Irromperam-se, no período, escândalos que sacudiram o País – e foram muitos – dentre eles a maior organização quadrilheira que até então se tinha notícia nesses trópicos: a dos mensaleiros. Nasceu à sombra da barba do presidente, no gabinete do seu chefe da Casa Civil, José Dirceu, apontado pela Procuradoria Geral da República como o chefe do processo de compra no atacado do Congresso Nacional. Outros, diversos outros, arrepiaram. O presidente não viu nada.


Lula é uma figura que fez uma carreira magnífica. Sua ascensão ao poder orgulhou este País pela trajetória do nordestino que aportou em São Paulo num pau-de-arara, com a mãe que, abandonada pelo pai, encarregou-se da criação dos filhos. Luis Inácio transformou-se num personagem mundial, passou a ser um ícone como chefe-de-estado, orgulho do Brasil, referência para todos os povos em relação a seus filhos. Enfrentando adversidades, chegou à Presidência, conquistou as massas, os desprotegidos, herdou uma estrutura administrativa pronta para crescer, que ele, no entanto, viria a distorcer, chamando-a de “herança maldita”.


Depois da glória, o presidente desandou. Quis se transformar num mito terceiro-mundista, de um País do hemisfério sul já na rota dos emergentes. Embevecido, não escolheu símbolos, com o de Che Guevara, por exemplo, porque o símbolo era ele próprio no seu egocentrismo sem limites. Passou a ser, então, o superego dos ditadores mundiais, do iraniano Mahmoud Ahmadinejad, ao líbio Khadafi, ambos sanguinários, do lambaz Hugo Chávez ao ídolo das esquerdas dos anos 60, Fidel Castro, dentre muitos outros.


Perdeu-se na sua própria gloria enquanto por aqui permitia, sem nada enxergar, que a corrupção se espraiasse pela República, organizando núcleos e células nacionais para garantir o projeto do PT de se apropriar do poder pelo menos por duas décadas.


Não estabeleceu freios para os petistas. Soltou-os para comandar a federação nos Estados que conquistassem, onde o lulapetismo-sindicalista teria, e tem ampla licença para comandar o poder de forma desatinada e incompetente. Lula não governou. Esqueceu de administrar para ser o marqueteiro dele próprio, aboletado em palanques de norte a sul do País, dizendo asneiras, dia e noite, ou o que as massas queriam dele ouvir, com os bajuladores e subservientes aplaudindo em euforia orgástica.


Rompeu com a imprensa, tentou amordaçá-la. Sabia, como sabe muito mais agora, que uma imprensa livre não combina com déspotas ou aprendizes de ditadores.


Aconteceu, então, a ascensão de Dilma Rousseff ao poder, que passou a amargar momentos de horror. Herdou uma República composta por feudos comandados por partidos que sustentavam as ausências de Lula, que entre um palanque e outro viajava pelo mundo. Os áulicos, atentos às vantagens dos esquemas, faziam tudo o mais que ele queria. Eram recompensados, como o foi o PR, cujo dono, Valdemar da Costa Neto, um mensaleiro que se transformou no dono do Ministério dos Transportes, fonte de escândalos e de desenfreada gatunagem.


Quanto mais Dilma manda desratizar, mas ratazanas aparecem e, com a informações que afloram na imprensa, os brasileiros ficam sabendo o que acontece com os impostos que todos nós pagamos. De ministro a estafeta a corrupção se generaliza. Mudam-se nomes e descobre-se que os substitutos participavam do mesmo esquema.

Estamos só, e por ora, no Ministério dos Transportes. Se for uma decisão inabalável de Dilma desratizar a República, terá diante dela o dilema do governar ou não apurar a roubalheira. Ainda por cima, terá que enfrentar a má vontade dos partidos políticos, que já não são partidos. Em alguns casos são sindicatos de ladrões, com as exceções sempre cabíveis. Enquanto tal se observa, Lula se abraça com estudantes de um arremedo do que foi a gloriosa UNE, que recebeu R$4 milhões das arcas públicas para entronizar Lula, endeusando-o.


A imprensa denuncia e Lula num desvario bem apropriado, aumenta os ataques à imprensa. Só que sua voz já não tem a capacidade de reverberar como antes e já não tem condições de negar que a imprensa é hoje o grande fator e fiscal que impele o Palácio do Planalto a agir para não se igualar, com antes, nos escândalos republicanos. São tempos de vergonha, e mais virão fatos para enodoar está República desafiada a se elevar para, indignada, dizer não. Um País não se faz escondendo-se na infâmia da covardia.

PARA DIZER NÃO
É normal, o que me leva a perder muito tempo descarregando a minha caixa de e-mails, receber mais de 300 mensagens por dia. A maioria delas, porque meu endereço eletrônico é aberto, lixo puro, o que me faz, ao deletar quase automaticamente, perder informações importantes e consistentes. Neste domingo, recebi várias dezenas sobre o comentário em que aludi a falta de indignação popular em conseqüência do lamaçal republicano, enquanto em diversos pontos do mundo a indignação se impõe e até derruba governos. Os brasileiros não são apáticos, como muitos imaginam. Nós não somos covardes. Alguns movimentos cívicos, cidadãos, como o Diretas-Já e Caras Pintadas são exemplo.


Citei mensagem de Eliana Dumet e, juntamente com outras que me chegaram, manifestações de reação ao que acontece. Como não posso citar todas, em razão do espaço, anoto poucas, mais incisivas, enviadas por Edvaldo Gonçalves, o Engo. Civil Eneas Cavalcanti, George W. Hassemann, Luis Carlos Farias, Gil Mazin, Reinaldo Oliveira, Fernando Ribeiro Hermida e Paulo Brito, que lembra uma paralização nacional marcada para o 1º. de abril.


Quanto a mim, declaro-me em campanha.


Fonte: Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta terça-feira (19).

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