quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Artigo de Bruno Alves publicado no jornal A Tarde – 27/02/13 - DECADENTES VIÚVAS VERMELHAS



As manifestações contra a blogueira e dissidente do regime castrista, Yoane Sanchéz, são um sinal de alerta para nossa jovem democracia. De forma torpe, radical e primitiva a juventude partidária da UJS (União da Juventude Socialista), ligada ao PC do B (Partido Comunista do Brasil), tentou de todas as maneiras cercear a liberdade de expressão da cidadã cubana.

É decepcionante observar um agrupamento político de jovens brasileiros agir de forma tão truculenta contra uma visitante a nosso país. Foi um comportamento de radicais, viúvas de um regime que, de muito, já teve seu prazo de validade vencido.

Os simpatizantes da revolução cubana, como se intitulam, deveriam saber, que manifestações políticas em Cuba, não são permitidas.

Trajados com camisas de Che Guevara, líder dos primeiros pelotões de fuzilamento da Revolução Cubana, fundador de campos de trabalhos forçados para homossexuais e dissidentes, além de um dos responsáveis pela tirania que tanto oprime o povo cubano. É inspirado nesse exemplo que os manifestantes acreditaram está realizando um grande feito.

Che Guevara é a referência dessa juventude viúva, que levada pelo marketing “capitalista” o transformou em ídolo. Na verdade, a maioria deles não sabe nem de quem se trata.

As manifestações políticas são um direito de todos, desde quando sejam realizadas de forma pacífica, sem agressões físicas ou verbais. Porém o que se viu foram manifestações agressivas, primitivas, com o único intuito de impedir a transmissão de informações e ideias da dissidente do regime castrista.

A ação promovida pela UJS pode configurar crime, previsto no artigo 146 do Código Penal – Decreto Lei 2848 de 7 de Dezembro de 1940: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda”.

Não podemos querer silenciar o outro, só porque divergimos de seu pensamento. A liberdade de expressão não é bandeira partidária, é alicerce da democracia.

Bruno Alves
Presidente da Juventude Democratas Bahia 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O realismo soviético-brasileiro



Que o Brasil avançou na última década, restam poucas dúvidas. O desemprego se mantém em uma taxa razoavelmente baixa, a renda e o consumo têm crescido constantemente e os índices de miséria continuam em diminuição.  

Com esses dados em mãos, o Partido dos Trabalhadores poderia ter apresentado à nação uma análise mais equilibrada de seus dez anos de poder.

Mas o PT não conseguiu se manter nos rígidos limites da honestidade intelectual. Em uma cartilha apresentada em um bizarro estilo stalinista, preferiram mistificar, inventar e, no limite, utilizar a mentira como arma política.

Ao invés de comemorar uma década à frente do Planalto com uma agenda positiva, o PT resolveu atacar a gestão anterior. Um partido político com três êxitos seguidos nas eleições presidenciais não consegue superar o ranço autoritário e a ojeriza às críticas.

A sorte do Brasil é que por aqui existem imprensa livre e partidos de oposição, ao contrário de Cuba. No dia seguinte após a divulgação da apostila, já era possível conhecer a maioria de suas distorções do documento petista.

Por exemplo, em comparação com os vizinhos, a era FH foi mais eficiente que o período PT. Entre 1995 e 2002, o Brasil cresceu mais do que os países da América Latina e da América do Sul.

Nesse período, o crescimento do PIB per capta da América Latina foi de 0,7%. Na América do Sul foi de – 0,2%. Negativos! Mas no Brasil houve um avanço de 1%.

Já em toda a era PT, entre 2003 e 2012, a média de crescimento do PIB da América Latina foi de 4,3% e a do Brasil de 3,6%.

Durante o petismo, período de pujança para os países exportadores de matéria prima, fomos lanterninha no crescimento entre os colegas de economia semelhante.

Faltou também o PT dizer em sua cartilha que a queda do desemprego de 10,5% para 4,6% se deveu em grande parte à manutenção da essência da política macroeconômica do governo anterior, baseada em estabilidade monetária.

A cartilha chega a dizer que a desigualdade só passou a diminuir a partir de 2003. Esquece que o processo remonta no mínimo a 1994, ano do Plano Real. Além disso, a cartilha parece ignorar que a inflação caiu exatamente devido ao Plano Real.

O texto está em linha com as palavras arrogantes da presidente Dilma, que afirmou que os petistas não herdaram o Brasil, construíram o Brasil.

Não se fala em nenhum momento na cartilha que os programas sociais foram originados na era PSDB/DEM. Logo após tomar posse, em 2003, o ex-presidente Lula mandou arquivar o programa Fome Zero, do PT, e preferiu expandir e mudar o nome das ações já existentes.

Ao fazer apologia da era petista, a cartilha petista também deveria ter lançado luz sobre como anda o governo da presidente Dilma Rousseff. Como preferiu olhar para trás, algumas informações:

O crescimento percapta do Brasil em 2012 será de 0%, de acordo com as projeções do PIB.

Com relação ao IDH, estamos estacionados em comparação ao mundo em um nada honroso 84º lugar.

E as promessas da Dilma? Um verdadeiro fiasco conforme levantamento do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), do Democratas sobre o orçamento de 2012.

·         O programa de inclusão digital, promessa de Dilma, recebeu apenas 33,7% dos 58 milhões previstos no orçamento.
·         Os programas do Pronaf só receberam 17,8% da previsão orçamentária.
·         A conhecida promessa de criar 6 mil creches só recebeu R$ 692 milhões dos 2,4 bilhões prometidos para 2012 (28,3%).
·         Com relação à transposição do rio São Francisco, um vexame conhecido. Foram liberados R$ 318 milhões de uma previsão de R$ 1,85 bilhão, ou o equivalente a 17,2%.
·         A previsão era gastar R$ 942 milhões na construção de 8,6 milhões de Unidades Básicas de Saúde (UBS) em 2012. O gasto foi de 110,3 milhões (11%).
·         A construção de 500 unidades de pronto atendimento UPA recebeu R$ 34 milhões de uma previsão de R$ 490 milhões. Pífios 6%.
·         Já os 2.883 postos de Polícia Comunitária não receberam nenhum Real dos 9,5 milhões previstos.

Difícil dizer que um governo sem capacidade de gastar o dinheiro que tem seja administrado.

Os dados estão aí para se contrapor a um governo que só tem uma maneira de se comunicar: na linguagem publicitária e no discurso de divisão do País.

Fonte: Imprensa Democratas


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Intolerância à cubana




O Brasil pôde constatar nesta semana que o fascismo está presente entre nós. Mas, surpreendentemente para quem não está ligado em política, o germe autoritário corre é nas veias dos movimentos de esquerda.

Grupos ligados ao PC do B, ao PT, monitorados pela embaixada de Cuba, e contando com a omissão e mesmo a participação explícita de um funcionário do Palácio do Planalto, se lançaram em uma cruzada medieval contra a blogueira cubana Yoani Sánchez, em visita ao país.

Houve movimentos organizados para boicotar todas as falas de Yoani. Não preferiram ouvir a cubana e apresentar contra-argumentações. Preferiram apenas promover manifestações de força contra a dissidente. No Brasil não há mais os camisas verdes, os fascistas dos anos 30. Foram substituídos pelas camisas vermelhas de militantes estudantis intolerantes.

E qual o maior pecado de Sánchez? Ora, ela se opõe a uma ditadura, em tese de esquerda, dos glorificados irmãos Castro, no poder desde 1959. E para injuriar a blogueira vale tudo, inclusive insinuações sobre sua vida pessoal.

Mais do que uma tentativa de desqualificação ou ofensa política o fascismo possui características objetivas, a saber:

·        Existência de um líder carismático para conduzir a nação;
·        Um Estado poderoso que controla a economia e a política;
·        Manifestantes voluntarista prontos a obedecer o líder a despeito da lei;
·        Menosprezo pela democracia e ódio ao liberalismo;
·        Militarismo;
·        A existência de uma classe intelectual pronta a justificar o sistema;
·        Truculência frente ao contraditório.

Frente a essas colocações, é difícil não considerar as movimentações contra blogueira uma atitude fascista.

Yoani Sánchez foi elegante frente aos atos contra ela. Lembrou que em Cuba tais protestos não seriam possíveis. “Queriam me linchar e eu conversar”, disse.

Enquanto os patrulheiros do Brasil andam tão preocupados com a presença de uma blogueira cubana, a presidente Dilma Rousseff se prepara para visitar mais uma ditadura.

Dilma irá à Guiné  Equatórial, onde o  presidente Obiang Nguema Mbasogo está há 34 anos no poder. Segundo a ONG Human Rights Watch, Mbasogo é um dos líderes mais corruptos do mundo. O país é conhecido como “Auschwitz da África”.

O caso Yoani, infelizmente, é apenas uma faceta de um grupo ligado ao poder que acha que tudo vale para destruir com quem não comunga com suas ações e ideias.  

Outra vítima habitual das injúrias raivosas tem sido o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Hoje, no evento de comemoração do aniversário do Partido dos Trabalhadores, a tônica não é só fazer festa, mas atacar o ex-presidente.

Assim como ocorre contra Yoani Sánchez, a principal arma da agressão contra FH é a mentira.  Uma cartilha que será distribuída aos militantes faz uso de falsificações grosseiras para comparar a era PT com o governo FH.

Um detalhe curioso é que a capa do panfleto petista possui a estética do realismo socialista soviético, comandado por Stalin.

Editorial do Estado de S. Paulo lembrou hoje as sábias palavras de uma militante política alemã, por sinal comunista, Rosa Luxemburgo “A liberdade é quase exclusivamente a liberdade de quem discorda de nós”. A citação não foi compreendida pela esquerda brasileira...

O Democratas, também nesse sentido, é o partido da liberdade. O deputado Mendonça Filho (PE) foi um dos primeiros a protestar contra os seguidos absurdos ocorridos no Brasil e apresentou um pedido de proteção para a blogueira.

Nas palavras do presidente José Agripino, Yoani é apenas uma profissional que busca praticar a democracia em Cuba.

Fonte: Imprensa Democratas


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O mundo se move. O Brasil fica para trás



Estados Unidos e os 27 países da União Europeia deram início às negociações para criar uma gigantesca área de livre comércio no hemisfério norte.

Caso seja efetivado, o acordo iria abranger transações comerciais que superam US$ 2 bilhões por dia. Só de remoção de impostos, os valores somariam US$ 180 bilhões anuais.  

É uma ideia que aposta na abertura de fronteiras como ferramenta para a retomada do desenvolvimento econômico dessas nações do hemisfério norte.

Mas o que essa tentativa de pacto entre gigantes tem a ver como Brasil? Muita coisa.

Na prática, nos últimos 20 anos, o país só conseguiu fechar três acordos de livre comércio, com Israel, Palestina e Egito. As conversações para a criação de uma área de livre comércio nas Américas, iniciadas no governo FHC, foram arquivadas na gestão PT. Enquanto isso, no resto do mundo houve outros 543 acordos laterais e regionais.

Tais acordos significam maiores facilidades para a circulação de mercadorias e serviços. Costumam ter como consequência aumento do Produto Interno Bruto e mesmo da qualidade de vida das populações envolvidas.

Mais atentos ao que ocorre no mundo, países como o Chile fecharam 21 acordos comerciais nos últimos anos, o México, 13, o Peru, 12, e a Colômbia 11. No caso da América do Sul, em boa parte embalados pelos tratados, Peru, Chile e Colômbia cresceram em média 5% em 2012. No Brasil ficamos com 1% de crescimento.

Mas enquanto o mundo e nossos vizinhos se mexiam e fechavam pactos, nossa diplomacia estava mais preocupada em cumprir agendas ideológicas incluindo apoiar veladamente regimes antiamericanos como os do Irã e da Venezuela.

Outra prioridade brasileira foi reforçar as relações sul-sul com a África. Do ponto de vista humanitário, talvez algo defensável. Mas na prática, a movimentação do nosso governo tem servido para justificar ditaduras sanguinárias.

A próxima viagem da presidente Dilma, para Guiné Equatorial, é emblemática nesse sentido. O presidente Obiang Nguema Mbasogo, está há 34 anos no poder. Segundo a ONG Human Rights Watch, Mbasogo é um dos líderes mais corruptos do mundo. O país é conhecido como “Auschwitz da África”.

Ao invés de buscar tratados comerciais pelo mundo, outra obsessão do governo brasileiro tem sido defender a já caquética ditadura cubana. Integrantes do Palácio do Planalto estiveram diretamente envolvidos com a tentativa de desmoralizar a dissidente Yoani Sanchez, em visita ao Brasil.

Mas, enquanto o Brasil cochila, países como a China acabaram por avançar sobre a nossa proporcionalmente pequena fatia de vendas para nações ricas.

Entre 2004 até o final de 2011, por exemplo, nossas exportações para os americanos subiram de US$ 20,4 bilhões para US$ 25,9 bilhões. Ou seja, dos US$ 2,2 trilhões que os EUA importaram no ano passado, fomos responsáveis apenas por US$ 26 bilhões - pífios 1,18%.

As exportações da China para os EUA subiram de US$ 100 bilhões para US$ 399 bilhões em 2011. É mais de 15 vezes maior do que as vendas do Brasil aos americanos. Com mais pragmatismo e menos ideologia, a China tomou um lugar que poderia ser nosso.

“O governo brasileiro parou no tempo. Recusa-se a entabular negociações bilaterais de livre comércio. Enterrou o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), não consegue evoluir no projeto de liberação do comércio entre Mercosul e União Europeia e só anda para trás nas relações comerciais dentro do Mercosul, onde, em vez de diminuir, as travas só aumentam”, afirma o colunista do Estado de S. Paulo, Celso Ming.

O Democratas é, historicamente, o único partido brasileiro a defender claramente posições como as que estão sendo tomadas por EUA e a União Europeia.

Está na hora de pegar essa bandeira de abertura de fronteiras e diminuição de impostos e ajudar a implantá-la no Brasil.

Fonte: Imprensa Democratas 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Tripé social - DENIS LERRERROSENFIELD



Mal se haviam encerrado as eleições municipais de 2012 e já começavam as articulações e os debates visando a 2014, com especial destaque para o pleito presidencial. Há uma agenda econômica que está sendo ressaltada nesse debate, seja numa perspectiva propriamente da economia ou político-eleitoral.

No primeiro caso, temos economistas e analistas observando que a atual política econômica está alterando os fundamentos vigentes no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso e no primeiro de Luiz Inácio Lula da Silva: o tripé superávit fiscal, câmbio flutuante e metas da inflação. O Brasil estaria seguindo uma política imediatista, baseada no aquecimento do consumo, no crédito fácil, no jogo perigoso de seguir o teto das metas de inflação – e não o centro –, além de o Banco Central estar agindo como braço do Ministério da Fazenda. O “pibinho” seria um dos seus resultados.

Daí não se segue, contudo, que essa pauta econômica seja decisiva do ponto de vista político-eleitoral, como as lideranças tucanas se estão apressando a dizer. O timing da política não corresponde ao da economia. Enquanto a atual situação econômica permanecer sob controle, sem grandes derrapagens inflacionárias, nada muda na perspectiva eleitoral. Pode até ocorrer uma queda progressiva das expectativas econômicas, sobretudo visíveis para os economistas e analistas, sem que o atual governo perca seu prestígio. Em casos extremos, o presente pode hipotecar o futuro, sem que isso signifique um fracasso eleitoral para o partido no poder. O exemplo dos Kirchners, na Argentina, mostra sucessivas reeleições num país em plena desordem econômica e institucional.

O atual governo, do ponto de vista político-eleitoral, não está baseado num tripé econômico, mas social, associado a financiamentos eleitorais e políticos de grandes grupos econômicos, que estão sendo beneficiados por diferentes privilégios, como subsídios, financiamentos do BNDES e desonerações tributárias. O tripé social é constituído pelo Bolsa-Família, pelo aumento da renda e de benefícios da classe média ascendente e por uma situação de pleno emprego.

O Bolsa-Família atinge 13,9 milhões de famílias. Contando quatro votos por família (pai, mãe e parentes dos mais distintos graus), temos um contingente de 55,6 milhões de eleitores simpatizantes do atual governo e do PT. Esses gastos, independentemente da situação econômica, já estão assegurados no Orçamento da União e são, portanto, financiados por impostos. Mas o PT soube consolidar a narrativa de que o Bolsa-Família, apesar de ter sido criado no governo Fernando Henrique com outras denominações, é fruto de uma política petista.

A classe média ascendente, que vive de seu trabalho, credita boa parte de seu sucesso aos governos petistas, que criaram condições para sua melhoria de vida. Pode-se dizer que essa classe não compartilha os valores petistas, na medida em que está ancorada na liberdade de escolha, no esforço próprio, na diminuição dos impostos, no elogio da segurança, e assim por diante. Todavia atribui sua ascensão aos governos Lula e Dilma e tende a votar na atual presidente se os tucanos não tiverem um discurso especial para eles. E também neste caso soube o PT consolidar a narrativa de que a ascensão dessa classe média resulta de sua política.

O País usufrui hoje uma situação de pleno emprego, com aumento generalizado da renda dos trabalhadores. Frequentemente os trabalhadores podem escolher o seu emprego, não estando obrigados a seguir o que lhes é imposto quando este é escasso. O imponderável reside num crescimento econômico muito baixo, que poderia vir a alterar essa situação, mas a projeção de aumento do PIB em torno de 3% ao ano não deve mudá-la substancialmente.

Vejamos, sob essa ótica, as recentes medidas governamentais de redução das tarifas de energia elétrica. Elas se enquadram perfeitamente em dois pilares do tripé social: o Bolsa-Família e a classe média ascendente. Os beneficiários do programa assistencial pagarão menos pelo consumo da luz – hoje praticamente universal no País. Os aparelhos de televisão, a luz em casa e os eletrodomésticos em geral sofrerão uma redução de seus custos de utilização. Trata-se de um grande benefício.

Para a classe média ascendente, o impacto de tais medidas é ainda mais acentuado, pois ela é mais intensiva no uso de energia elétrica: suas residências são maiores e melhores, seus eletrodomésticos, em maior número, e ela se tornou também usuária de computadores e aparelhos de ar-condicionado. A redução do custo da energia elétrica é, para essa classe, um benefício adicional, que se acrescenta à sua própria livre-iniciativa. O governo entra na casa das pessoas como favorecendo-as diretamente, algo inestimável do ponto de vista eleitoral. Discussões sobre quebra de contratos, por exemplo, passam a ter pouca relevância política nesse contexto específico.

A redução das tarifas de energia para os setores industriais, pequenos, médios e grandes, é também muito bem vista, correspondendo a uma demanda antiga, que se torna ainda mais premente num ambiente competitivo, nacional e internacional. Num contexto capitalista de privilégios, valem agora os benefícios usufruídos por alguns, em detrimento dos setores de produção, geração e distribuição de energia, que foram atingidos por tais medidas. Note-se, no caso, que os beneficiários são em maior número que os prejudicados, aumentando, correspondentemente, o cacife eleitoral da atual presidente.

Enquanto esse tripé social estiver assegurado, as chances de reeleição de Dilma Rousseff são muito grandes. Isso significa, para os próximos dois anos, que o tripé anterior, constituído por metas da inflação, superávit fiscal e câmbio flutuante, passa a ser secundário. Vale a nova fórmula eleitoral.

PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS.

Vou-me embora pra Bruzundanga - MARCO ANTONIO VILLA





O Brasil é um país fantástico. Nulidades são transformadas em gênios da noite para o dia. Uma eficaz máquina de propaganda faz milagres. Temos ao longo da nossa História diversos exemplos. O mais recente é Dilma Rousseff.

Surgiu no mundo político brasileiro há uma década. Durante o regime militar militou em grupos de luta armada, mas não se destacou entre as lideranças. Fez política no Rio Grande do Sul exercendo funções pouco expressivas. Tentou fazer pós-graduação em Economia na Unicamp, mas acabou fracassando, não conseguiu sequer fazer um simples exame de qualificação de mestrado. Mesmo assim, durante anos foi apresentada como “doutora” em Economia. Quis-se aventurar no mundo de negócios, mas também malogrou. Abriu em Porto Alegre uma lojinha de mercadorias populares, conhecidas como “de 1,99”. Não deu certo. Teve logo de fechar as portas.

Caminharia para a obscuridade se vivesse num país politicamente sério. Porém, para sorte dela, nasceu no Brasil. E depois de tantos fracassos acabou premiada: virou ministra de Minas e Energia. Lula disse que ficou impressionado porque numa reunião ela compareceu munida de um laptop. Ainda mais: apresentou um enorme volume de dados que, apesar de incompreensíveis, impressionaram favoravelmente o presidente eleito.

Foi nesse cenário, digno de O Homem que Sabia Javanês, que Dilma passou pouco mais de dois anos no Ministério de Minas e Energia. Deixou como marca um absoluto vazio. Nada fez digno de registro. Mas novamente foi promovida. Chegou à chefia da Casa Civil após a queda de José Dirceu, abatido pelo escândalo do mensalão. Cabe novamente a pergunta: por quê? Para o projeto continuísta do PT a figura anódina de Dilma Rousseff caiu como uma luva. Mesmo não deixando em um quinquênio uma marca administrativa – um projeto, uma ideia –, foi alçada a sucessora de Lula.

Nesse momento, quando foi definida como a futura ocupante da cadeira presidencial, é que foi desenhado o figurino de gestora eficiente, de profunda conhecedora de economia e do Brasil, de uma técnica exemplar, durona, implacável e desinteressada de política. Como deveria ser uma presidente – a primeira – no imaginário popular.

Deve ser reconhecido que os petistas são eficientes. A tarefa foi dura, muito dura. Dilma passou por uma cirurgia plástica, considerada essencial para, como disseram à época, dar um ar mais sereno e simpático à então candidata. Foi transformada em “mãe do PAC”. Acompanhou Lula por todo o País. Para ela – e só para ela – a campanha eleitoral começou em 2008. Cada ato do governo foi motivo para um evento público, sempre transformado em comício e com ampla cobertura da imprensa. Seu criador foi apresentando homeopaticamente as qualidades da criatura ao eleitorado. Mas a enorme dificuldade de comunicação de Dilma acabou obrigando o criador a ser o seu tradutor, falando em nome dela – e violando abertamente a legislação eleitoral.

Com base numa ampla aliança eleitoral e no uso descarado da máquina governamental, venceu a eleição. Foi recebida com enorme boa vontade pela imprensa. A fábula da gestora eficiente, da administradora cuidadosa e da chefe implacável durante meses foi sendo repetida. Seu figurino recebeu o reforço, mais que necessário, de combatente da corrupção. Também, pudera: não há na História republicana nenhum caso de um presidente que em dois anos de mandato tenha sido obrigado a demitir tantos ministros acusados de atos lesivos ao interesse público.

Com o esgotamento do modelo de desenvolvimento criado no final do século 20 e um quadro econômico internacional extremamente complexo, a presidente teve de começar a viver no mundo real. E aí a figuração começou a mostrar suas fraquezas. 

O crescimento do produto interno bruto (PIB) de 7,5% de 2010, que foi um componente importante para a vitória eleitoral, logo não passou de uma recordação. Independentemente da ilusão do índice (em 2009 o crescimento foi negativo: -0,7%), apesar de todos os artifícios utilizados, em 2011 o crescimento foi de apenas 2,7%. Mas para piorar, tudo indica que em 2012 não tenha passado de 1%. Foi o pior biênio dos tempos contemporâneos, só ficando à frente, na América do Sul, do Paraguai. A desindustrialização aprofundou-se de tal forma que em 2012 o setor cresceu negativamente: -2,1%. O saldo da balança comercial caiu 35% em relação à 2011, o pior desempenho dos últimos dez anos, e em janeiro deste ano teve o maior saldo negativo em 24 anos. A inflação dá claros sinais de que está fugindo do controle. E a dívida pública federal disparou: chegou a R$ 2 trilhões.

As promessas eleitorais de 2010 nunca se materializaram. Os milhares de creches desmancharam-se no ar. O programa habitacional ficou notabilizado por acusações de corrupção. As obras de infraestrutura estão atrasadas e superfaturadas. Os bancos e empresas estatais transformaram-se em meros instrumentos políticos – a Petrobrás é a mais afetada pelo desvario dilmista.

Não há contabilidade criativa suficiente para esconder o óbvio: o governo Dilma Rousseff é um fracasso. E pusilânime: abre o baú e recoloca velhas propostas como novos instrumentos de política econômica. É uma confissão de que não consegue pensar com originalidade. Nesse ritmo, logo veremos o ministro Guido Mantega anunciar uma grande novidade para combater o aumento dos preços dos alimentos: a criação da Sunab.

Ah, o Brasil ainda vai cumprir seu ideal: ser uma grande Bruzundanga. Lá, na cruel ironia de Lima Barreto, a Constituição estabelecia que o presidente “devia unicamente saber ler e escrever; que nunca tivesse mostrado ou procurado mostrar que tinha alguma inteligência; que não tivesse vontade própria; que fosse, enfim, de uma mediocridade total”. 

HISTORIADOR, É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERALDE SÃO CARLOS (UFSCAR)