quinta-feira, 21 de julho de 2011

COMENTÁRIO A TARDE: AS VARIADAS FACES DA CORRUPÇÃO



A corrupção no Brasil não surgiu espontaneamente. Ganhou densidade pela com a ação dos políticos que, a partir de práticas grupais ou individualizadas, assaltam as arcas públicas disseminando a ação em todas a esferas do poder, em todos os setores da atividade econômica, especialmente o setor público, onde a fiscalização é frouxa quando é séria, e depravada quando se facilita a participação do assalto ao tesouro.


Os políticos, reunido em partidos transformados em sindicato de ladrões, com as exceções de praxe, porque o generalizar não faz justiça aos que são sérios, atuam utilizando variadas práticas. Cito algumas: 1- diretamente ao tungar aos bolsos dos contribuintes; 2- pela utilização à larga do caixa dois, com duplo crime fiscal praticados pelo empresário que “contribui” e pelo político que recebe e não declara; 3- através dos seus áulicos e apaniguados, senão parentes, que agem de forma condescendente empoleirados em cargos públicos; 4- através de processos complicados de lavagem de dinheiro, difíceis de serem investigados e descobertos; 5- com a utilização das tais verbas de gabinete, para gastos legais, transformados em ilegais, no exercício da atividade parlamentar; 6- contratando funcionários para seus gabinetes que recebem menos do que declaram receber; 7- com a utilização de “laranjas”, às vezes ignorantes, senão analfabetos, quando, assim, o crime é duplamente qualificado.


Citei apenas formas e práticas de corrupção, justamente as mais conhecidas. Há muitas outras como os tais contratos superfaturados, seguindo-se aditivos (práticas disseminadas, mas abertas e de há muito conhecidas) como, por exemplo, acontece no nefasto Ministério dos Transportes comandado pelo PR do mensaleiro Valdemar da Costa Neto. Há as tais medições de obras por fiscais comprados com gordas propinas; a execução de obras de infraestrutura subterrâneas difíceis de fiscalizar, porque a corrupção faz parte da empreitada. E por aí vai.


Há outras modalidades, dezenas delas, a depender do exercício de criatividade do político ou gestor, como dizia, época da ditadura militar, Francelino Pereira que, misturado às fardas dos generais acabou governador de Minas Gerais. Para ele (já morto) o segredo de tudo é o exercício da criatividade. Ou como cita Millôr Fernandes, este de forma honesta e em outro sentido, o “livre pensar, é só pensar”.


Os políticos geralmente são competentes no exercício da criatividade. Aqueles que não são juntam-se aos dotados de tal capacidade de sorte a tirar também proveito e usufruir das arcas da Viúva. Há normalmente um conluio que se espraia com facilidade espantosa.


Impossível esquecer ou desprezar os que contemporizam fechando os olhos à roubalheira sem ver nada, ouvir nada e não saber de nada. Esses usam da estratégia da santíssima inocência sobre o que está a acontecer. O que não os livram, ao contrário os condenam, pela inoperância e incompetência no trato das questões do Estado. No mais das vezes, utilizam tais argumentos para alegar desconhecimento com a desfaçatez própria dos mentirosos.


A corrupção é contagiosa. Percorre com facilidade do ápice à base da pirâmide do poder, onde estão os “bagrinhos”, como certa feita aludiu o ex-presidente Lula, em contraposição aos “pintados” que estão no ápice. Não poderia ter feito comparação melhor senão utilizando espécies de peixes para que os seus eleitores compreendessem a defesa que fazia de um dos seus irmãos, cujo nome esqueci – e não me interessa lembrar - envolvido em tráfico de influência jamais provado ou jamais investigado. O mano era um mero “bagrinho” que teria sido utilizado por vorazes “pintados.”


Já que Lula, num acaso e ao correr das teclas aqui digitadas, emergiu neste texto, espanta-me a sua preocupação com a ação da presidente Dilma Rousseff na sua cruzada para desratizar o Ministério dos Transportes, feudo por ele, Lula, entregue no seu período ao Partido da República. De acordo com a sua “experiência” política, a crise nos Transportes poderá trazer complicações para a presidente. Em conversas com interlocutores divulgadas na imprensa do Sul, o ex-presidente disse “ter medo de que o rito sumário das demissões e o temperamento de Dilma imponham riscos à governabilidade, levando-a ao isolamento.”


Ora, se assim é, o que seria que Lula aconselharia a Dilma? Deixar as ratazanas corroerem a República, ou combatê-las com racumim, chumbinho e ratoeiras? Explica-se que, na sua avaliação, “graças à aliança de 15 partidos, Dilma ainda possui capital político para tomar medidas drásticas, como a exoneração em massa de dirigentes nos Transportes.” Sugere, no entanto, a hipótese de “não desperdiçar esse ativo agora. Teme que o troco aconteça num momento de fragilidade do governo.”


Depois de tais brilhantíssimas preocupações, pode-se chegar à ilação que é melhor deixar os partidos e os larápios corroerem o tesouro do que enfrentá-los, o ex-presidente, ainda segundo a imprensa sulista, descarta “o mal-estar embutida na idéia de que Dilma esteja tendo problemas com seu legado” (a sua herança maldita). Estrutura, então, uma paliçada em sua defesa: “o novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, comandava a pasta no fim de sua gestão.”


Ora, ora, o atual ministro, que também está cercado de suspeição, substituiu o demitido Alfredo Nascimento quando este se desincompatibilizou do cargo para disputar o Senado, conforme determina a legislação eleitoral. Eleito, retornou ao posto. Passos apenas guardou o seu lugar. Não vale, portanto o argumento piegas. É primário. Ainda complementando, Luis Inácio não estaria satisfeito com o tratamento que Dilma tem dado ao PR. Que coisa, meu! Até a torcida do Corinthians recusa tal absurdo.


Samuel Celestino

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