As análises sobre as manifestações de jovens que tomaram mais de
400 cidades do Brasil, principalmente as grandes capitais, divergem a depender
dos interesses, formação e ideologia de quem as avaliou.
Com a óbvia ressalva à existência do vandalismo, há desde pessoas
que consideram que o Brasil finalmente acordou após tanta corrupção e
desfaçatez, até alguns que não medem palavras e chamam as pessoas nas ruas de
“fascistas”.
Passaram a ofender os manifestantes, inclusive os pacíficos,
principalmente após a última quinta-feira, quando não se permitiu que
militantes do PT participassem de uma grande marcha em São Paulo.
Salta aos olhos a atitude oportunista e inábil do presidente do
PT, Rui Falcão, ao tentar se integrar à marcha paulistana, cego sobre a
evidência de que seu partido era um dos alvos dos movimentos.
A questão da rejeição aos partidos políticos é uma das poucas
unanimidades dos diferentes pontos de vista sobre os acontecimentos. Até mesmo
integrantes de siglas de ultraesquerda, como o PSTU e o PSOL, aos poucos,
passaram a vistos com desconfiança pela maioria. Uma pesquisa do Ibope
divulgada ontem pela Rede Globo registrou que mais de 80% dos participantes não
se sente representado por nenhum partido.
Para o Democratas o momento então é de reflexão. A hora não é de
tentar liderar, se aproveitar, mas tentar compreender o que ocorre e tentar
oferecer uma alternativa à sociedade.
O Democratas tem atuado à altura dos acontecimentos? Como tem
agido o partido para não ser simplesmente um simples alvo da ira das ruas?
A resposta a essas perguntas pode ser feita por meio da descrição
de alguns fatos de nossa história recente:
Uma das causas da manifestação é o custo abusivo dos estádios da
Copa, pagos com dinheiro público ou financiados com taxas de juros bem
favoráveis. Enquanto isso, as obras de mobilidade, o chamado legado da Copa,
têm sido deixadas para trás.
Praticamente desde quando foi anunciado que o Brasil seria sede da
Copa, em 2007, o Democratas tem estado atento à questão. No último mês de
abril, o presidente do partido, senador José Agripino, questionou diretamente o
ministro do Esporte, Aldo Rebelo, sobre o descaso com as obras de mobilidade
Copa.
Outra causa das grandes manifestações tem sido a corrupção. A
verdade é que o Democratas, como qualquer outro partido, não tem sido imune aos
malfeitos. Mas mostrou à sociedade que possui uma diferença fundamental: não
permite a permanência entre seus quadros dos envolvidos com irregularidades.
Essa postura intransigente já nos custou na época o único
governador, José Roberto Arruda, do DF, e a saída do senador Demóstenes Torres.
Também com relação à corrupção, o Democratas, juntamente com
outros partidos de oposição, como o PSDB e o PPS, entrou na Justiça contra
medidas como o Regime Diferenciado de Contratação (RDC), que ao impor
orçamentos secretos para licitações públicas, estimula a existência de grandes
conchavos.
Quanto ao problema da má-administração pública, o Democratas tem
sido implacável na fiscalização pelo governo. A equipe de orçamento do partido
monitora diretamente todas as liberações de verbas seja de emendas, obras ou
gastos pessoais de autoridades. Com os dados alimenta a imprensa sempre que há
problemas administrativos ou suspeita de irregularidades.
A principal fonte dos meios de comunicação sobre os atrasos nas
ações do governo, como as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), é a
equipe de orçamento do Democratas.
Já o Promessômetro, da liderança do partido na Câmara, monitora
todos os compromissos feitos pela atual presidente Dilma Rousseff, quando
candidata. Diga-se de passagem, muita pouca coisa foi cumprida.
Os parlamentares do Democratas têm agido no Congresso de acordo
com os anseios da sociedade, seja na defesa da reforma política, nas denúncias
dos conchavos políticos, contrariamente
o aumento da carga tributária que sufoca o cidadão ou no questionamento de um
governo com 39 ministérios e incapaz de tomar medidas eficientes.
O partido também tem votado sistematicamente por mais verbas para
saúde, mais verbas para a educação e por mais rigor às leis.
Defensor da democracia e da estabilidade econômica, da
competitividade, os integrantes do partido jamais deixaram de mostrar que
o governo errava em suas medidas para estimular a economia. Tiveram coragem de
dizer que as consequências seriam a paralisia do crescimento econômico e o
retrocesso nas conquistas sociais.
Enquanto o governo procurava a unanimidade e sufocar a oposição, o
Democratas, no seu papel, nunca deixou de questionar, denunciar, se
autoquestionar, se reciclar, e propor. Nesse sentido, sem querer se aproveitar,
está sim junto com o espírito das ruas.