Dentre
as entrevistas que o jornal A Tarde publicou até aqui, em página inteira,
sempre nas segundas-feiras, envolvendo a sucessão na Bahia, de longe a que o
ex-deputado federal e secretário municipal de Transportes e Urbanismo, José
Carlos Aleluia, concedeu, publicada na edição de ontem, foi a mais clara e
elucidativa. Outras também apresentaram informações valiosíssimas. O
entrevistado não descarta sua candidatura ao governo, nem a afirma, por tudo
depender das circunstâncias.
Fala do excelente relacionamento entre o
governador Jaques Wagner e o prefeito ACM Neto, da possibilidade de que uma
candidatura de Otto Alencar possa acarretar uma aliança entre governo e
oposição e citar Paulo Souto como “um nome que não pode ser descartado em
hipótese nenhuma. Ele não mencionou que dispõe a sê-lo (candidato), mas ninguém
se dispõe sem ter uma proposta.” E assegura: “Ele está no jogo.”
O
secretário pontua a política sempre de forma inteligente. Considera que as
oposições não vão lançar candidatura apenas para preencher o espaço com
representante do contrário, ou do jogo de confronto. Em outras palavras, apenas
para marcar posição. Entende ele que e a Bahia tem uma vinculação histórica com
a política nacional e é necessário observar o que acontecerá nesse plano até
porque não convém à oposição lançar candidato aqui, apenas para preencher um
espaço. Aliás, isso aconteceu no passado, desde, praticamente, a fundação do PT
quando o partido mantinha candidatos nas unidades federativas, apenas para constar
ou para firmar a sua presença.
Para
ele, “não se pode dissociar uma eleição local da nacional, assim como não se
pode uma eleição da Bahia vinculada a de Salvador”. Isso significa que, embora
Salvador seja o farol eleitoral do Estado, não dá para pensar uma eleição que
possa sofrer a influência exclusiva da Capital. “Os problemas da Bahia são
maiores, ou pelo menos diferentes das dificuldades enfrentadas por Salvador.”
Cita a seca como um exemplo visível que atinge a Bahia, mas não a capital baiana.
Aleluia fez diversos mandatos como deputado federal e, em todos ou quase todos,
ficou entre as dez mais brilhantes cabeças da Câmara Federal.
Posteriormente,
entendeu que cansara de Brasília e necessitava de uma nova experiência, mas não
lhe foi dado (na época de ACM) instrumentos para ser candidato ao governo do
Estado. Na segunda eleição de Wagner, candidatou-se ao Senado e perdeu. A Bahia
experimentava uma nova realidade política com o PT no Poder. Nos últimos meses,
basicamente após a eleição de ACM Neto, houve uma aproximação entre o
governador e o prefeito, com decisões que irão favorecer Salvador. O campo
político se tornou mais ameno, como deve ser, na medida em que os partidos
podem estabelecer adversidades, mas nada
impede – e esse é o certo – que haja uma relação civilizadas entre eles.
O
próprio Aleluia se refere desse modo ao ex-carlista Otto Alencar,
vice-governador e secretário de Jaques Wagner. Na entrevista, explicita que
“tem carinho” por Otto. “Fomos aliados, ele tem muitas qualidades”. Nesse ponto
faz uma revelação importantíssima, que nada mais representa senão a união da
Bahia, ao dizer que “ele é um candidato que até poderia facilitar alguma
aliança.” Não me recordo, no jornalismo político, de uma aliança ampla entre
governo e oposição. Havia, com hoje, os adesistas, é certo.
Em
1989, o então ex-ministro Antonio Carlos Magalhães chegou a sugerir, através de
intermediários, uma aliança com seu arquiadversário Roberto Santos, numa
composição na qual Santos ficaria como candidato ao governo e ele ao Senado.
Roberto Santos descartou liminarmente. Antônio Carlos venceu a eleição para
governado e realizou o seu terceiro mandato.
Retornando
a Otto Alencar, Aleluia afirma que ele conversa muito “com nossos amigos,
nossos aliados no interior” e diz que “não negar o passado para ele é uma ato
de inteligência. O vice-governador não poderia negar o passado, pois foi tudo
no passado”.
De
maneira geral, a entrevista de José Carlos Aleluia tocou em todos os pontos que
o repórter Biaggio Talento o inquiriu. Em todas as perguntas, não fez uma só
acusação política a quem quer que seja e ampliou seus pontos de vista para
alcançar as ideias que estão postas em relação às eleições governamentais do
próximo ano. Disse que candidato a governador da oposição só após o Carnaval,
portanto cumprindo o calendário sem a precipitação que ora observa. Não
descarta uma aliança com Dilma Rousseff (o Democratas está com dificuldades
para manter o relacionamento histórico com o PSDB) e afirmou que a candidatura
de Geddel Vieira Lima não está descartada; que ele deu apoio à candidatura de
ACM Neto e participa do governo municipal.
Assim,
a entrevista do secretário Municipal dos Transpores foi a mais ampla e aberta
dentre as que A TARDE até aqui realizou. Foi uma entrevista com um forte
aspecto de anistia aos políticos baianos dos diversos segmentos, portanto
“ampla, geral e irrestrita”.
Samuel
Celestino, A Tarde
Nenhum comentário:
Postar um comentário