terça-feira, 7 de maio de 2013

Samuel Celestino, A Tarde: Ampla, geral e irrestrita




Dentre as entrevistas que o jornal A Tarde publicou até aqui, em página inteira, sempre nas segundas-feiras, envolvendo a sucessão na Bahia, de longe a que o ex-deputado federal e secretário municipal de Transportes e Urbanismo, José Carlos Aleluia, concedeu, publicada na edição de ontem, foi a mais clara e elucidativa. Outras também apresentaram informações valiosíssimas. O entrevistado não descarta sua candidatura ao governo, nem a afirma, por tudo depender das circunstâncias.

 Fala do excelente relacionamento entre o governador Jaques Wagner e o prefeito ACM Neto, da possibilidade de que uma candidatura de Otto Alencar possa acarretar uma aliança entre governo e oposição e citar Paulo Souto como “um nome que não pode ser descartado em hipótese nenhuma. Ele não mencionou que dispõe a sê-lo (candidato), mas ninguém se dispõe sem ter uma proposta.” E assegura: “Ele está no jogo.”

O secretário pontua a política sempre de forma inteligente. Considera que as oposições não vão lançar candidatura apenas para preencher o espaço com representante do contrário, ou do jogo de confronto. Em outras palavras, apenas para marcar posição. Entende ele que e a Bahia tem uma vinculação histórica com a política nacional e é necessário observar o que acontecerá nesse plano até porque não convém à oposição lançar candidato aqui, apenas para preencher um espaço. Aliás, isso aconteceu no passado, desde, praticamente, a fundação do PT quando o partido mantinha candidatos nas unidades federativas, apenas para constar ou para firmar a sua presença.

Para ele, “não se pode dissociar uma eleição local da nacional, assim como não se pode uma eleição da Bahia vinculada a de Salvador”. Isso significa que, embora Salvador seja o farol eleitoral do Estado, não dá para pensar uma eleição que possa sofrer a influência exclusiva da Capital. “Os problemas da Bahia são maiores, ou pelo menos diferentes das dificuldades enfrentadas por Salvador.” Cita a seca como um exemplo visível que atinge a Bahia, mas não a capital baiana. Aleluia fez diversos mandatos como deputado federal e, em todos ou quase todos, ficou entre as dez mais brilhantes cabeças da Câmara Federal.

Posteriormente, entendeu que cansara de Brasília e necessitava de uma nova experiência, mas não lhe foi dado (na época de ACM) instrumentos para ser candidato ao governo do Estado. Na segunda eleição de Wagner, candidatou-se ao Senado e perdeu. A Bahia experimentava uma nova realidade política com o PT no Poder. Nos últimos meses, basicamente após a eleição de ACM Neto, houve uma aproximação entre o governador e o prefeito, com decisões que irão favorecer Salvador. O campo político se tornou mais ameno, como deve ser, na medida em que os partidos podem estabelecer  adversidades, mas nada impede – e esse é o certo – que haja uma relação civilizadas entre eles.

O próprio Aleluia se refere desse modo ao ex-carlista Otto Alencar, vice-governador e secretário de Jaques Wagner. Na entrevista, explicita que “tem carinho” por Otto. “Fomos aliados, ele tem muitas qualidades”. Nesse ponto faz uma revelação importantíssima, que nada mais representa senão a união da Bahia, ao dizer que “ele é um candidato que até poderia facilitar alguma aliança.” Não me recordo, no jornalismo político, de uma aliança ampla entre governo e oposição. Havia, com hoje, os adesistas, é certo.

Em 1989, o então ex-ministro Antonio Carlos Magalhães chegou a sugerir, através de intermediários, uma aliança com seu arquiadversário Roberto Santos, numa composição na qual Santos ficaria como candidato ao governo e ele ao Senado. Roberto Santos descartou liminarmente. Antônio Carlos venceu a eleição para governado e realizou o seu terceiro mandato.

Retornando a Otto Alencar, Aleluia afirma que ele conversa muito “com nossos amigos, nossos aliados no interior” e diz que “não negar o passado para ele é uma ato de inteligência. O vice-governador não poderia negar o passado, pois foi tudo no passado”.

De maneira geral, a entrevista de José Carlos Aleluia tocou em todos os pontos que o repórter Biaggio Talento o inquiriu. Em todas as perguntas, não fez uma só acusação política a quem quer que seja e ampliou seus pontos de vista para alcançar as ideias que estão postas em relação às eleições governamentais do próximo ano. Disse que candidato a governador da oposição só após o Carnaval, portanto cumprindo o calendário sem a precipitação que ora observa. Não descarta uma aliança com Dilma Rousseff (o Democratas está com dificuldades para manter o relacionamento histórico com o PSDB) e afirmou que a candidatura de Geddel Vieira Lima não está descartada; que ele deu apoio à candidatura de ACM Neto e participa do governo municipal.

Assim, a entrevista do secretário Municipal dos Transpores foi a mais ampla e aberta dentre as que A TARDE até aqui realizou. Foi uma entrevista com um forte aspecto de anistia aos políticos baianos dos diversos segmentos, portanto “ampla, geral e irrestrita”.

Samuel Celestino, A Tarde

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