terça-feira, 21 de maio de 2013

ENTREVISTA: José Carlos Aleluia, secretário de Urbanismo e Transporte



Secretário de Urbanismo e Transporte de Salvador, o engenheiro eletricista José Carlos Aleluia, nos primeiros meses à frente da pasta, já tomou algumas medidas e fez algumas declarações que demonstram seu interesse em mudar paradigmas na mobilidade urbana de nossa cidade. Exemplos disso são a eliminação de estacionamentos em algumas áreas da cidade, como o Farol da Barra, a Av. Sete de Setembro e algumas áreas do Comércio, além de uma medida já divulgada pela imprensa: a intenção de transformar a região do Farol da Barra em calçadão inspirado em modelos europeus. Com o objetivo de esclarecer a forma como pretende intervir no trânsito de Salvador, em especial em prol dos pedestres, ciclistas e meios de transporte não motorizados, ele nos concedeu essa entrevista exclusiva, em 16/04/2013.

Henrique Azevedo: Existe alguma programação de campanha educativa para mudar os paradigmas da mobilidade urbana em Salvador?

José Carlos Aleluia - Devemos demonstrar para as pessoas como é possível viver numa comunidade, numa região da cidade que seja, digamos, relativamente autônoma, para que ela seja uma área capaz de resolver a vida das pessoas da maneira mais simples possível, com translado que possa ser feito, inclusive e principalmente, andando ou por equipamento como bicicleta. Esse tipo de coisa se faz através da demonstração. Essa administração vai fazer uma demonstração, usando a Barra como experiência. Vamos abrir o espaço na orla da Barra, que vai do pé da Ladeira da Barra até um pouco antes do Cristo, para que se transforme num parque. Um lugar onde, em quase toda a sua extensão, o espaço é exclusivo do pedestre, das bicicletas, do lazer e da utilidade. Tenho absoluta certeza de que o uso dos espaços da região vai ser reciclado. Na região do subúrbio, por exemplo, vamos tratar alguns lugares, retirando o domínio do carro sobre os espaços e convidando as pessoas a ocupá-los. Em Salvador, o domínio do carro nos espaços urbanos se estendeu dos bairros e dominou o centro da cidade. A rua Chile, que era a rua mais relevante do centro da cidade, a mais “andável” de Salvador no tempo em que eu era criança e adolescente, se transformou até recentemente num  estacionamento, onde as lojas já não prosperam e não há sequer um café, a exemplo do que se vê no centro de Santiago, Buenos Aeres, de qualquer cidade do mundo. Mas à medida em que as pessoas vão descobrindo que é bom viver resolvendo as coisas com menos carro e mais transporte coletivo, a mudança começa a acontecer naturalmente. Mas é claro que isso também deve fazer parte de um debate.

HA – Quer dizer que, na região central da cidade, os espaços de estacionamento vão dar lugar à ampliação das calçadas?

JCA - Vamos trabalhar no sentido de dar espaço e dignidade às pessoas. Gosto de me inspirar nas fotografias antigas da cidade. Recentemente, vi uma foto da Rua Chile, da Praça Tomé de Souza. Nela aparece muita gente andando na rua, um único veículo individual, talvez até de antes da guerra, e os bondes, que deslizavam entre as pessoas. Não havia absolutamente nenhuma dificuldade para que as pessoas transitassem no meio do espaço do trilho. Vamos  trabalhar não no sentido de isolar o centro, porque é preciso tomar cuidado porque uma região central é diferente de uma região como a Barra. Nela não se pode fazer um fechamento do acesso, senão pode virar um gueto. Deve-se levar em conta também, no planejamento urbano, a questão do controle da criminalidade. A criminalidade é um problema e se uma área é isolada para o acesso de carros, como ocorreu em algumas cidades, como São Paulo, ela pode se tornar inacessível às pessoas porque está dominada pelo crime. Para uma área ser andável, é necessário que seja útil andar nela, é necessário que seja também segura. Ou seja, que seja um lugar onde os riscos sejam mínimos de alguém ser atropelado, assaltado, atacado. E tem de ser uma área onde seja agradável caminhar. No caso da Barra, é fácil transformá-la em local seguro, pois como é muito habitada, especialmente à noite, fica mais fácil controlar a criminalidade. Áreas onde não há pessoas, à noite, sobretudo, são áreas que convidam ao crime. Não podemos fechar simplesmente uma área, pois fechar simplesmente pode transformá-la num gueto.

HA – A respeito da segurança, tivemos um evento nesse final de semana que coincidiu, exatamente, com uma intervenção feita pela prefeitura no Campo Grande. Na sexta-feira (12/04/20123), retirando comerciantes,  skatistas, ciclistas e até mesmo os moradores de rua que estavam lá implantados, houve o assassinato de um estudante na mesma noite. Há alguma relação nisso? 

JCA - Toda vez que há gente, evidentemente que gente chama gente, que gente dá conforto, dá tranquilidade. Mas tem que ser gente que está usando o espaço de forma própria. Morador de rua não está usando o espaço de forma própria, está dormindo no espaço, fazendo toda higiene no espaço, isso significa trazer insalubridade para o espaço. Seria uma posição demagógica da prefeitura achar que o morador do Campo Grande deveria trazer segurança para o Campo Grande. O frequentador do Campo Grande, sim. O comerciante, de forma moderada, porque não se pode transformar um parque numa feira. Tem que haver alguns espaços para o comerciante. Na Barra, vamos preservar o comerciante. O prefeito decidiu que vai haver o comércio de côco, uma coisa natural da cidade, típico da cidade, e de acarajé. Eventualmente, os ambulantes, mas ambulantes móveis, que poderão fazer esse tipo de comércio na praia. Se você deixar o comércio livre, o comércio domina o ambiente e acaba o parque. 

HA - Com relação à transformação das ruas em espaços mais andáveis, como isso será feito no subúrbio? 

JCA - Vamos fazer várias intervenções na orla, em Tubarão, em Paripe, na Ribeira. O Estado está fazendo um programa na Ribeira. Vamos fazer intervenções sempre voltadas para ampliar o espaço do cidadão, para que os bolsões dos que se deslocam para lá não cheguem a tomar conta da praia. Se você vai no fim de semana para qualquer uma dessas regiões, verifica que o que domina não é o espaço das pessoas, mas dos veículos. Um lugar ocupado por um carro é o mesmo lugar ocupado por quantas pessoas? Você tem que fazer com que os carros circulem, mas circulem com velocidade compatível ao movimento das pessoas. Isso nós vamos fazer. Na Barra, é apenas uma intervenção, faremos depois no Rio Vermelho, sempre procurando valorizar a pessoa. 

HA – O blog Rua de Gente foi inspirado numa rua de Salvador, localizada no bairro do IAPI, onde eu fiscalizava a obra de uma escola. Tirei várias fotos mostrando como os moradores fazem um uso muito interessante da rua, como espaço de vivência e de lazer, especialmente as crianças...

JCA – Em lugares de classe média, você encontra mais isso, numa cidade como Salvador, com mais frequência, do que em lugares mais centrais e bairros mais sofisticados. Por quê? Porque normalmente, nos bairros onde se construíram prédios, esses prédios não têm um espaço de concordância entre o prédio e a rua, normalmente existe um abismo. O que é que acontece, por exemplo, nas cidades do interior? As ruas se comunicam com as casas, numa intimidade muito grande. O que a arquitetura nossa fez foi valorizar demais o privado, isolar muito o privado, e deixar que as pessoas se sintam soltas nas ruas, como se os prédios nada tivessem a ver com as ruas, onde eles estão colocados. Em alguns bairros, existe um “diálogo”, uma relação muito próxima entre propriedade privada, que deve ser preservada, e propriedade pública. Isso é que dá movimento e vida à rua. E faz com que a pessoa que está na rua se comunique com o que está acontecendo ao lado dela. Se você passa numa rua, pode ser de prédios altos ou baixos, às vezes eles funcionam como muralhas isoladas. Mas existem lugares em que os prédios são altos e se transformam em verdadeiros motivos de iluminação e de interface para o pedestre, contribuindo com a segurança da rua. Ou seja, se você isola o prédio da rua, com portas e comportas, existe o medo do crime porque há uma distância muito grande entre o que tem no prédio e o que tem na rua. Isso são coisas que decorrem da insegurança. Na novela das 8, tem uma favela, o Complexo do Alemão, mas as pessoas vivem na rua, convivem na rua, conversam na rua, o bar é quase na rua. Quer dizer, está lá uma comunidade que usa a rua. 

HA – No blog, fizemos um trabalho de análise da Via Expressa e, entre muitos problemas, vimos a falta de continuidade das calçadas...

JCA - As vias expressas são como se não fizessem parte da cidade. Não é o caso dessa. Todas as outras não tratam de passeio, normalmente. Eventualmente, têm passeio, mas não tratam de passeio, não tratam de ciclismo, não tratam de nada, porque são vias exclusivas de alta velocidade. Mas elas terminam não sendo, porque, na verdade, as pessoas estão ali e precisam transitar. Não há sentido em fazer essas coisas dentro de cidade. As cidades americanas que fizeram isso tiveram que reverter, a exemplo de Boston e Chicago, que conheço razoavelmente bem. Fizeram auto estradas no elevado e, depois, resolveram evoluir para o “mergulho”, que é  uma solução menos agressiva. A via Expressa de qualquer jeito é uma obra que pode prestar um serviço ao porto, dar uma sobrevida ao porto.  

HA - Mas a solução que a gente vê muito nas avenidas de vale, aqui em Salvador, são as passarelas. E, na verdade, a passarela é uma solução para o carro, não para a pessoa, porque se obriga a pessoa a deslocamentos muito grandes. 

JCA - A solução que nós estamos estudando para alguns lugares é que o carro se eleve e as pessoas continuem a andar.  

HA - Ou que o carro “mergulhe” também, como Chicago? 

JCA - É, mas às vezes é mais fácil, num lugar como a avenida Antônio Carlos Magalhães, que o carro suba para que as pessoas possam passar com mais tranquilidade. Ali para o carro  mergulhar seria criado um problema de lençol freático, de inundação. 

HA – Há pouco tempo, em conversa com Miguel Kertzman (ex-secretário de transportes no governo Lídice da Mata) a respeito da LIP (Ligação Iguatemi-Paralela), ele disse que muita gente contestou e falou que ali teria problema. Mas na época ele consultou engenheiros que garantiram não haver riscos. 

JCA - Bela obra. Só faltou um mergulho a mais, pois faltaram 15 milhões para fazer. 

HA - Ali foi um milagre ele fazer a obra em uma Prefeitura que tinha tão pouco dinheiro... 

JCA - Milagre, não. Uma decisão certa. Quem investiu na obra foi o empresariado daquela região. Eles tinham que fazer isso.

HA - Temos um problema sério em Salvador, que são as calçadas, que estão muito distantes de atender às normas. O que o senhor está pensando para resolver esse problema? 

JCA - Além de estreitas, as calçadas de Salvador estão deterioradas. O problema do alargamento demanda mais tempo. Já a deterioração é a primeira coisa que temos que cuidar e a regra será tolerância zero para o estacionamento na calçada. Parar na calçada é algo imperdoável, que vai representar sempre multa e remoção do veículo. Mas isso vai demorar muito para as pessoas entenderem, por isso está exigindo um volume muito grande de remoção de veículos. Muitas de nossas remoções estão sendo feitas por estacionamento em passeio, por uso indevido de vagas para pessoas deficientes e idosas. Estamos procurando ampliar a quantidade de vagas para idosos e deficientes, para convidá-los à orla. Conheço alguns idosos que já voltaram a ir para a Barra, porque agora tem vaga. E você ainda encontra muito jovem, ou pessoas que não precisam, achando que podem usar as vagas de deficientes. Essa coisa da recuperação do passeio é uma preocupação do prefeito, e nós vamos exigir. Vamos fazer um programa de cooperação com os donos das propriedades. Não tem cabimento que um edifício, que tem condomínio, preserve todo o espaço privado de maneira adequada, mas não preserve seu passeio. Muitos condomínios não preservam o passeio, mantendo pedaços de ferro e de cimento para os veículos não estacionarem no passeio, mas isso também atrapalha o pedestre.

HA - Já estão sendo discutidas em muitos lugares do Brasil, e na Europa já estão implantadas em alguns lugares, as zonas 30, que são locais da cidade onde o veículo só pode “andar”. Você falou há pouco tempo sobre redução da velocidade para ter uma condução mais humana, um trânsito mais humano, e isso é previsto no nosso código de transito, no artigo 61, que nas vias locais a velocidade máxima deve ser de 30 km/h. Para que as pessoas respeitem essa lei, vai haver um processo de educação, informação e sinalização? 

JCA - Muita sinalização. Nós vamos trabalhar com velocidades mais moderadas, não só por questão de segurança, porque ainda encontro gente raciocinando que o veículo deve ter uma velocidade moderada para evitar o acidente. Mas a velocidade moderada do veículo é para ele não perturbar o ambiente enquanto passa. Então, a velocidade média de um ônibus em Salvador não deve estar muito acima de 12 km/h. Para se deslocar de forma confortável, 40km/h está muito bom. Na Barra, nos trechos onde houver circulação de ônibus, a velocidade será entre 15 e 20 km/h, porque é uma área de pedestre. Será um espaço compartilhado, que acho que vai ficar muito adequado. 

HA – Existe previsão de se estabelecer em Salvador as Zonas 30

JCA - Com esse nome, não. Mas vamos estabelecer “boulevares”, que são áreas de 30 ou 40km/h. Não temos o programa ainda, porque a equipe é muito pequena, mas há uma ideia de valorizar o espaço das vias, sobretudo nos bairros residenciais, e os espaços para os moradores. Isso é uma coisa que tenho encontrado alguma resistência em minha equipe. Quando começo a falar em implantar um programa para reservar estacionamento para moradores, existem pessoas que se revoltam porque moram próximas ao centro e não conseguem sequer ter paz na própria rua. Por exemplo, no Caminho das Árvores, as pessoas querem fechar as ruas, porque os carros e as pessoas invadem os espaços das famílias dos moradores para estacionar. Este é um programa também que tem que estudar muito, porque exige mobilização de equipe. Você não pode fazer um programa para não pegar. Estamos ainda em uma pré-história, num momento de conquistar de novo os espaços da rua, os passeios, progressivamente. Observe que sem nenhum investimento, melhoramos bastante o visual da Barra. Acabamos também com o engarrafamento na Av. Sete. Se saio daqui da secretaria, que fica na Avenida Garibaldi, em quinze minutos posso estar em reunião com o prefeito na Praça da Sé. A não ser que seja entre 5 e 6 horas da tarde. O problema é chegar até o Campo Grande, mas de lá chego à Prefeitura praticamente sem engarrafamento e com um trânsito a uma velocidade de 15 a 20 km/h. Mas ainda não fizemos o que deveríamos fazer: ampliar as calçadas. Mas não adianta ampliar as calçadas, se elas forem tomadas pelo comércio. Estamos fazendo um trabalho de intervenções pontuais e progressivas. Há reações, como as da Vasco da Gama, onde há ainda uma negociação, porque a avenida Vasco da Gama hoje tem oito pistas, não tem gerado mais engarrafamento, mas das oito pistas duas são ocupadas com estacionamentos e oficinas, que não vamos preservar. Estacionar eventualmente pode, mas seria um estacionamento rotativo, rápido, porque é uma via de velocidade. Mas usar a via para oficinas não pode, porque o Código de Trânsito proíbe. Já tivemos nesse ano o óbito de um mecânico que estava trabalhando na margem da pista da av. Bonocô. Não é coisa só de secretário que está querendo implantar coisas novas, não, é questão de segurança. 

HA - A Vasco da Gama tem também um problema sério de pouca calçada, não é?  

JCA - A Vasco da Gama tem lugares onde não tem calçada, porque as pessoas construíram na calçada. A prefeitura permitiu que construíssem na calçada. Vamos ter que fazer uma engenharia para resolver esse problema. 

HA - O sr.  falou há pouco tempo sobre a importância dos ciclistas e a gente vê hoje muito ciclista na cidade. Mas tanto para o ciclista como para o pedestre, há alguns pontos de conflito com o trânsito, porque não existe a cultura de respeito ao ciclista. O Código de Trânsito prevê a prioridade para o ciclista nas vias onde não há ciclovia, mas ou os motoristas desconhecem ou fingem desconhecer isso. O que o sr. pensa disso?

JCA - O prefeito quer dar um tratamento à questão da bicicleta. Por muito tempo se usou um argumento equivocado de que Salvador tem muita ladeira e por isso não era própria para bicicleta. Equivocado, porque Salvador não tem ladeira. As ladeiras estão no centro histórico de Salvador, a cidade fortaleza foi construída na ladeira. Em geral, Salvador é uma cidade hoje desenvolvida de forma plana ou com ladeiras muito fáceis de serem dominadas pela bicicleta. Mas a cidade é hostil à bicicleta. Algumas vezes, saí de bicicleta na cidade, hoje eu saio muito pouco, cada dia menos. Mas estou querendo voltar a sair. Hoje me sinto ameaçado, porque há também uma questão de educação para o trânsito, que é uma coisa que tem que ser feita de forma coletiva. Temos um programa com o secretário de cidades sustentáveis, que ficou encarregado de tratar desse assunto, e eu já disse a ele que isso é prioridade no nosso planejamento urbano. Não faremos nenhuma nova avenida sem pistas exclusivas para ônibus e ciclistas.  

HA - Existe alguma ideia de política para incentivar o uso de bicicleta em Salvador? 

JCA - Estamos discutindo isso. Estamos lançando o edital para tentar fazer aquelas bicicletas integradas que o Rio de Janeiro tem. É uma forma de incentivar as pessoas a andarem de bicicleta.  

HA – Serão bicicletas alugadas?

JCA – Sim, alugadas com cartão de crédito que os bancos bancam. Não dá lucro, mas alguém tem que bancar isso.

HA – O Itaú tem feito isso...

JCA - Itaú, Bradesco...  

HA – Vi o Itaú fazendo isso em Recife. 
JCA - Nós vamos fazer isso também, vamos trabalhar nisso. 

HA - Isso é muito bom porque as pessoas vão começar a perceber que é permitido o uso da bicicleta nas ruas.

JCA – Elas serão convidadas, a palavra é essa.

HA - Nas avenidas e ruas, o estreitamento da largura das faixas de rolamento pode ser um instrumento para reduzir a velocidade no trânsito e facilitar a circulação de ciclistas e pedestres. O que o sr. acha disso?

JCA – Queremos aumentar a velocidade média e reduzir a velocidade máxima nas vias. Quanto ao estreitamento das faixas, fizemos um estudo desse na avenida Paralela, com o objetivo de aumentar o número de faixas. Mas há uma controvérsia entre os técnicos, porque você não pode fazer isso em pistas com velocidade acima de 60KM/h. Se fizer isso, tem que fazer em pistas com velocidade menor. Acho muito arriscado em uma via onde a velocidade máxima é 80km/h, como a Paralela. Se fizermos um estreitamento dá para ganhar uma pista, tem um diretor de trânsito de nossa equipe que defende muito isso.
 
HA - Não falo em reduzir para ganhar pista, mas reduzir para ganhar uma ciclovia ou passeio... 

JCA - No caso da Paralela, é muito fácil ganhar uma ciclofaixa. Mas no caso da Paralela, eu não avanço mais na questão de usar a faixa central para fazer ciclovia. Na faixa central, não é bom, mas é melhor do que não ter. Já as vias marginais são ociosas, são típicas para bicicleta porque são largas e não podem ser pistas de estacionamento como são hoje, verdadeiros depósitos de carros, Vamos tirar o depósito de carros e aí vai aparecer o lugar para as bicicletas. Eu não tenho que colocar a bicicleta na Antônio Carlos Magalhães, tenho que colocar as bicicletas nas marginais da Antônio Carlos Magalhães.

HA - Pode ser uma boa também, mais seguro para o ciclista, mas tem que haver  continuidade da via marginal... 

JCA – Na avenida Paralela, nós teremos isso.

HA - Mas na ACM, não? 

JCA - Na ACM, teremos também, pelo menos nesse governo acho que vamos poder sair da Bonocô  e chegar a Brotas e talvez chegar até a Embasa, Camurugipe...  

HA - Pelas vias marginais? E tirar os estacionamentos dessas marginais? 

JCA - Sim, claro. Não há dúvida de que os estacionamentos vão ficar mais escassos. Não tem outro jeito. O motorista tem que entender que o estacionamento ao léo não vai acontecer mais. 

HA - O Código Nacional de Trânsito diz que o ciclista desmontado equivale ao pedestre, ou seja, se ele está empurrando a bicicleta, é pedestre. Existe uma reivindicação de alguns grupos de ciclistas para ter acesso aos ascensores com bicicleta. Existe alguma possibilidade ou estudo para viabilizar isso?

JCA - Possibilidade existe, mas estudo não. Não vejo, por exemplo, facilidade no Elevador (Lacerda). Vejo facilidade no Plano Inclinado Gonçalves. Podemos estudar isso, é uma boa ideia, nunca pensei, mas eu acho que tem que estudar bem isso. 

HA - Alguns ciclistas já me falaram também da Estação da Lapa, de poder chegar à Estação da Lapa... 

JCA - A Lapa é muito difícil, porque é muito baseada em escada rolante. As outras sim, mas a Lapa é complicada, tem que fazer uma reengenharia dela.  Não sou contra escada rolante, só não é compatível, sempre tem que fazer uma reengenharia para poder circular dentro com a bicicleta. Mas vamos em breve fazer uma privatização da Estação da Lapa, uma concessão de serviço público.

HA – Em alguns lugares, existe o compartilhamento das vias exclusivas de ônibus com bicicleta. O que o sr. pensa disso? 

JCA - Não conheço, não, mas é uma coisa compatível, porque o ônibus também não é para andar em alta velocidade. 

HA - Outra coisa é que os motoristas de ônibus são profissionais e mais fáceis de se educarem, principalmente quanto ao trânsito nas avenidas de vale. Um programa desse tipo existe na Inglaterra, em alguns lugares da Europa, aliás, na Europa, a bicicleta felizmente domina. Vejo alguns locais muito inseguros tanto para ciclistas como para pedestres, como os postos de gasolina, que têm entradas muito extensas e às vezes nem têm calçadas. Vi uma foto no Google Street View com pedestres e o carro entrando no posto sem sinalizar... 

JCA - O que me preocupa muito é a forma como foram construídos os postos de gasolina em nossa cidade. Tem posto de gasolina em todo lugar. Se você olhar uma fotografia antiga da cidade baixa, da praça Cairu, você verifica que ao lado dela tem um belvedere, que era um lugar que as pessoas entravam para visitar, para ver os barcos chegarem. Hoje tem lá um açougue e um posto de gasolina, que nós estamos lutando para tirar. (No dia 9/05/2013, foi publicada matéria sobre embargo do posto citado).

HA – Para ilustrar postagens daqui do blog, já utilizei algumas imagens do Google Street View, que acho uma ferramenta fantástica para observar a cidade. A gente percebe muito transporte não motorizado circulando, não é bicicleta, não, mas comerciantes, o vendedor de mingau, de milho, cachorro quente, o sucateiro, são pessoas que estão na cidade também trabalhando... O que o sr. pensa a respeito da segurança dessas pessoas no trânsito?

JCA - O que é fundamental é que, se estiverem se deslocando com veículos movidos a força humana, podem usar ciclovia, se estiver empurrando carrinho de mão, pode usar também a ciclovia, só não pode se for veículo motorizado. Na avenida sete é fácil fazer uma ciclo faixa, mas tem de fazer de forma progressiva porque o comerciante reage muito, acha que tem que colocar o carro dele na porta da loja dele, esse é um grande erro.

HA - Inclusive passei um dia desses na avenida sete em torno das 7 horas da manhã e o estacionamento estava todo ocupado, com 80 a 90% das vagas ocupadas... 

JCA - Não são dos clientes, mas dos próprios comerciantes e seus empregados ou de alguém que trabalha em algum prédio ali.  

HA - Fico pensando que realmente quase a maioria daquelas vagas são dispensáveis. 

JCA – São dispensáveis, inteiramente dispensáveis, até porque quem passa o dia todo lá pode botar o carro no estacionamento São Raimundo, que fica vazio. 

HA - Eu vi esses dias um artigo a respeito da cidade de Xangai, falando que é o sistema de metrô que dá lucro, porque eles transformaram as estações em shoppings...

JCA - As estações vão virar shopping. A Estação da Lapa será mais um shopping, aliás na estação da Lapa já tem 2 shoppings e vai ter mais um terceiro shopping agora, que é o shopping da própria Estação da Lapa.

HA – Há poucos dias li um artigo falando de fiscalização eletrônica nos corredores de exclusivos de ônibus... 

JCA - Só funciona se for fiscalização eletrônica. Só faremos com fiscalização eletrônica, porque  não temos pessoas suficientes para fiscalizar corredor de ônibus. A fiscalização é inteligente, se o ônibus passar em dois check points, está usando a faixa, mas se passar em apenas um ponto, não está usando a faixa. A continuidade é checada automaticamente pela câmeras inteligentes.  

HA - No dia 24 de janeiro deste ano, foi criado um grupo para elaboração dos termos de referência para a concessão do serviço de transporte público e terminais de passageiros. Como está o andamento desse trabalho? 

JCA - Esse trabalho está praticamente pronto, aguardando apenas a assinatura do contrato do metrô. Minha prioridade aqui nessa secretaria é lançar a concorrência do transporte público. Já estamos com o trabalho adiantado porque os entendimentos já estão concluídos a respeito do metrô, em breve sairá a licitação. 

HA - Mas isso vai exigir também uma tarifa única... 

JCA - Exige tarifa integrada, que vai ter, naturalmente. Hoje tem uma integração que é muito cara. Você paga R$1,40 na segunda perna. Quando vier o metrô, antes de chegar o metrô, vou ter que encontrar uma solução para a tarifa integrada. Tarifa única é uma coisa, tarifa integrada é outra. Tem uma pessoa que trabalha comigo, que anda 4km para não pagar a segunda perna. Isso é um absurdo, por isso surgiu a “macarronada” (linhas longas de ônibus que se entrelaçam). Na concorrência, nós vamos querer tarifa integrada.

HA – O sr. planeja implantar VLT (veículo leve sobre trilho) em algum lugar da cidade? 

JCA – Não temos planos, mas penso que o VLT se adapta muito bem a algumas áreas, muito melhor do que o ônibus. Mas tem que examinar o problema de inclinação. Não temos ainda nenhum estudo neste sentido, mas acho que Salvador se adapta. Primeiro, temos de dar um slow down nos veículos individuais. As pessoas têm que entender que existe o ônibus. Eu tenho usado muito o ônibus, para as pessoas verem que existe o ônibus. Todo mundo acha estranho, mas eu tenho usado.  

HA - Eu também uso ônibus. E comecei a usar bicicleta também.

JCA - Para as pessoas verem que você está fazendo. A teoria existe, mas deve haver a prática. 

HA – E, por fim, como está sendo pensado o Plano de Mobilidade Urbana para Salvador?

JCA – O Plano vai ser colocado dentro do de desenvolvimento da cidade. Queremos fazer um plano da cidade e vamos fazer o plano com o apoio da Federação das Indústrias. Vamos  ouvir a sociedade. Estou fazendo agora a Conferência da Cidade, você deveria participar disso, porque vamos fazer um plano da cidade. Dentro disso vai estar o plano de mobilidade urbana.
Edição: Nisia Rizzo de Azevedo



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