Três supostos milagres da baiana Irmã Dulce (1914-1992) são a
esperança do processo que pode transformá-la na primeira mulher nascida no
Brasil a virar santa.
Beatificada há
dois anos e meio, a religiosa precisa de mais um caso aceito pelo Vaticano para
se juntar a Frei Galvão, o único santo do país, canonizado em
2007, pelo papa Bento 16.
Desde que Irmã
Dulce virou beata, já chegaram mais de 3.000 relatos de graças alcançadas pela
sua intercessão. Deles, três foram considerados consistentes e começaram a ser
analisados por peritos, em Salvador.
Os casos estão
distribuídos entre Sergipe, Ceará e Bahia. Os milagres investigados não são
detalhados para não atrapalhar o processo de investigação, que corre sob
sigilo.
O primeiro milagre
atribuído à Irmã Dulce aconteceu em 2001. A sergipana Cláudia Cristiane dos
Santos havia sido desenganada pelos médicos depois de dar à luz, em 11 de
janeiro daquele ano.
Logo após o parto,
em Itabaiana (SE), Cláudia apresentou um quadro gravíssimo de hemorragia. As
possibilidades de tratamento se esgotaram ao longo das 28 horas em que a
paciente foi submetida a três cirurgias. Cláudia, contudo, sobreviveu.
Pela versão que
sustentou a beatificação pelo Vaticano, a mudança no quadro ocorreu porque o
padre José Almi de Menezes rogou à Irmã Dulce, de quem era devoto, pelo
salvamento da paciente.
Durante as orações,
a hemorragia parou, o que se constituiu no milagre reconhecido pelo Vaticano.
Havia outro relato
de milagre em São Paulo, mas os estudiosos identificaram uma intervenção médica
e o derrubaram.
REQUISITOS
São quatro os
requisitos: ser instantâneo, perfeito, duradouro e inexplicável. "Ou seja,
a graça deve ocorrer logo após o apelo e a pessoa deve voltar à condição que
tinha antes da enfermidade, sem apresentar sequelas nem algo que encontre base
científica", diz o historiador Osvaldo Gouveia, membro da comissão de
canonização.
Por exigência do
Vaticano, os nomes dos peritos e dos envolvidos nos milagres são mantidos em
sigilo. Eles são médicos que já trabalharam no reconhecimento do primeiro
milagre e da derrubada das outras hipóteses.
Um outro relato --a
cura de um garoto diagnosticado com leucemia-- é dado como certo, porém não é
considerado por datar de 2006. Segundo o Código Canônico, alguém só pode se
tornar santo graças a um milagre ocorrido após a beatificação.
Apesar do otimismo
da comissão, o arcebispo primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, diz que
tradicionalmente a fase de estudos demora cinco anos. E que, depois, toda a
documentação terá de ser averiguada de novo em Roma. "Eu, pessoalmente,
não acredito que saia logo. Não fico iludindo ninguém, porque sei que nesses
casos tem que ser um milagre muito forte, contundente", afirma.
Por causa disso, a
comissão decidiu que a estratégia será evitar "perda de campo" e
"desgaste" com o Vaticano. "Só vamos enviar para lá quando
estivermos muito convictos, para não correr risco de sermos desclassificados de
imediato. Vamos evitar a pressa pelo entusiasmo", diz Gouveia.
Irmã Dulce, que
hoje estaria com 99 anos, ficou conhecida pela dedicação aos pobres e doentes,
de acordo com o cardeal dom Geraldo Majella Agnelo, baseado em Salvador e um
dos cinco brasileiros que participaram do conclave que
elegeu o papa Francisco, em março.
A instituição de
caridade fundada por ela em 1949 realiza atualmente 5,5 milhões de atendimentos
por ano na capital baiana.
Fonte: Folha de S. Paulo
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