Abatida pelos efeitos da inflação alta e da crise externa, a
economia brasileira cresceu apenas 2,7% no ano passado. O resultado, divulgado
nesta terça-feira (6) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), representa menos da metade da expansão de 2010 (7,5%) e ficou bem
abaixo das projeções apresentadas pelo governo (5%) e pelos economistas de
mercado (4,5%) no início de 2011.
A expansão do PIB (Produto Interno Bruto) no quarto trimestre,
ante o terceiro, foi de apenas 0,3%, uma recuperação modesta depois da
estagnação registrada nos três meses anteriores. O IBGE revisou hoje o dado do
terceiro trimestre para um recuo de 0,1%. Anteriormente, o dado era de
estabilidade no período.
O PIB é a soma das riquezas produzidas em determinado intervalo de
tempo. Apesar do crescimento modesto, o PIB brasileiro somou R$ 4,143 trilhões
em 2011 em valores correntes, ultrapassando pela primeira vez a marca de R$ 4
trilhões.
A desaceleração da economia brasileira em 2011 é reflexo do forte
crescimento registrado no ano anterior. Após a crise financeira de 2008/2009, o
governo adotou várias medidas para estimular a economia, que passou por uma forte
recuperação em 2010.
No entanto, essa rápida retomada acabou por pressionar a inflação,
o que exigiu que o governo revertesse sua política e adotasse medidas para
desestimular o crescimento, como elevação dos juros e restrições ao crédito.
Essas medidas atingiram sua potência máxima no segundo semestre de
2011, justamente quando a crise europeia se agravou. A soma desses dois fatores
provocou um rápido esfriamento da economia.
O PIB per capta ficou em R$ 21.252, uma alta real (ou seja, acima
da inflação) de 1,8% em relação a 2010.
SETORES
Há mais de uma forma de calcular o PIB. Pela ótica da oferta,
soma-se toda riqueza gerada pelos três setores da economia: indústria, serviços
e agropecuária. Pela ótica da demanda, soma-se tudo que é gasto com
investimentos e consumo por famílias, governo e empresas. Nesse segundo cálculo
entra também a riqueza gerada por meio de exportações e a riqueza
"subtraída" do país pelas importações.
O desemprego baixo e a renda em alta impulsionaram, pelo oitavo
ano seguido, o consumo famílias, que cresceu 4,1% em 2011. Após uma leve queda
no terceiro trimestre, a demanda desse grupo voltou a aumentar nos últimos três
meses do ano (1,1% ante o terceiro trimestre).
O consumo do governo também se acelerou no fim de 2011, mas fechou
o ano com alta de apenas 1,9%. Ao longo do ano, houve uma contenção das
despesas públicas com objetivo de reduzir a inflação.
Já os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) tiveram leve
alta de 0,2% no último trimestre do ano. As incertezas geradas pela crise
externa e o esfriamento da economia doméstica aumentaram a cautela dos
empresários, que adiaram parte dos investimentos programados para o segundo
semestre. Além disso, boa parte da contenção de despesas do governo se deu por
meio de cortes de investimentos. Ainda assim, houve expansão de 4,7% dos
investimentos no ano.
No setor externo, o aumento da importação de manufaturados afetou
negativamente o desempenho do PIB, enquanto a expansão das exportações de
insumos como minério de ferro e soja impulsionaram a economia.
Pelo lado da oferta, a indústria apresentou o pior desempenho. O
setor registrou o terceiro trimestre seguido de retração (-0,5), acumulando
alta de apenas 1,6% no ano. Ao longo de 2011, a indústria sofreu com o
acirramento da concorrência externa e com o aumento dos custos com insumos e
mão de obra. O setor de transformação cresceu 0,1% em 2011.
Já o setor de serviços e o agropecuário tiveram desempenho melhor.
Com baixa exposição a concorrência externa, o setor de serviços foi beneficiado
pelo aumento da renda e o desemprego baixo, que estimularam a demanda por
programas de lazer, viagens de turismo, serviços de telecomunicações, etc. O
setor cresceu 0,6% no quarto trimestre ante o terceiro, fechando 2011 com alta
de 2,7%.
O setor agropecuário, por sua vez, foi estimulado pela demanda de
países emergentes como China e pela alta dos preços na primeira metade do ano.
A agropecuária cresceu 0,9% no quarto trimestre ante o terceiro e acumulou alta
de 3,9% em 2011.
REVISÃO
O IBGE revisou a variação do PIB nos trimestres anteriores. No
primeiro trimestre, o PIB cresceu 1,1% ante os últimos três meses de 2010. No
segundo, houve expansão de 0,6%, enquanto no terceiro houve retração de 0,1%.
Os números anteriores eram de altas de 0,7%, 0,8% e zero.
Fonte: Folha.com
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