quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

E se a China quebrar?



A entrada da China na Organização Mundial do Comércio completou dez anos e ainda se comemora o continente de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes à disposição dos negócios. Claro que os meios de sobrevivência ali deixam grande parte sem poder de consumo, mas é uma potência.

Suas relações bilaterais com o Brasil estão se transformando em dependência, a ponto de um resfriado chinês chegar aqui como a nova versão da peste bubônica.

Por enquanto, os números de Pequim são saudáveis, mas com fortes indícios de serem inflados. O PIB, que tomou do Japão o segundo lugar no mundo, cresceu 10,3% em 2010 e 9,2% em 2011, o dobro da ascensão tupiniquim.

O gigantismo explica por que grande parte do planeta, inclusive o Brasil, resiste à quebradeira na Europa com a mesma placidez que tornou marola o tsunami norte-americano. E se os pontos na escala Richter fossem nos balancetes da China?

É preciso se preparar para o baque, pois a explosão de uma eventual bolha chinesa atingiria os sete mares e outros nunca dantes navegados. Nossas reservas cambiais, 300 bilhões de dólares (as chinesas são 11 vezes maiores), virariam pó de traque, porque o país não fez o necessário. A infraestrutura é caótica, a mão-de-obra não se modernizou e há 4 milhões de jovens fora da escola.

O aplaudido mercado interno padece dos mesmos males que acometeram seu similar chinês, o artificialismo.

Facilita-se o crédito para o consumo e dificulta-se o máximo para quem produz. Sem abarrotar os galpões da China, estaríamos a um passo da bancarrota.

Em 2010, o Brasil exportou R$ 30,8 bilhões para a China, 84% deles em commodities. Foram para lá, dos contêineres que mandamos para fora, 46% do minério de ferro, 64,6% da soja e 24,9% do petróleo.

Nossas vendas subiram 750% desde a chegada deles à OMC – em 2001, ficavam com 2% de tudo que exportávamos e, agora, são mais de 15%. Os otimistas diriam que sobram 85% para os outros parceiros.

O problema é que estes igualmente estão ligados ao sucesso da China – ela tem 1 trilhão e 159 bilhões de dólares em títulos dos EUA e, em caso de eventual necessidade, vai querer resgatá-los, arrastando para o buraco democratas e republicanos.

Portanto, o desafio para a presidente Dilma Rousseff é manter o país ao largo da saúde econômica da China. Em Hong Kong, uma vitrine do desenvolvimento daquela nação, 100 mil pessoas vivem em jaulas com 1,80m de altura por 75cm de largura, feitas para cachorro. As condições de habitação são semelhantes por todos os rincões.

Aí, volta-se ao PIB: para inflá-lo, a ditadura local ergue cidades-fantasmas com imóveis superavaliados e sem moradores. Os chineses, que vivem em condições subumanas, não conseguem adquiri-los – são 60 milhões de apartamentos vagos, suficientes para abrigar toda a população brasileira.

Quando a bolha estourar, vai se conferir se terá o tamanho de um engradado para cães ou do maior território do mundo.

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM/GO)

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