quinta-feira, 18 de agosto de 2011

SAMUEL CELESTINO - COLUNA A TARDE: DOS GIGANTES E ANÕES


Como estava escrito, sem mel e sem colmeia para se lambuzar, o PR agiu como compete a um partido fisiológico que se preza, acostumado à sombra e às peripécias das delicias e vantagens do poder: abandonou a base aliada do governo para garimpar em outro lugar. Mais precisamente nas minas das unidades federativas. O partido mandou um recado ao seu “povo” aboletado em cargos públicos. Nos Estados, avisou, ninguém precisa pedir demissão. Todos, então, terão direito a exercitar o seu direito do “fico”.

Lá se foi para o brejo o mensaleiro Valdemar da Costa Neto, o cidadão do sem jeito que despachava como se fosse dono no Ministério dos Transportes e, de lá, deitava ordens para todas as estradas, de asfalto ou de ferro, do país, através do Dnit e da Velec. Tentaram seus amigos político pedir por ele, adquirindo indulgências ou pregando total arrependimento, mas Dilma Rousseff não aceitou. Ela mandara 27 afilhados dos “republicistas” (porque ser republicano é privilégio único e registrado do PT) para “as profundezas hercúleas de satanás”. Assim, por suposição, como costumava dizer meu mestre (e de muitas gerações) em Economia política na velha Faculdade de Direito, o tetra-catedrático Augusto Alexandre Machado, ou, simplesmente, o mestre Machadinho.

O desenlace do poder dos “republicistas” do PR se deu, conforme esperado, no início da noite desta terça feira, em discurso no Senado proferido por Alfredo Nascimento, ministro defenestrado, que antes dissera, também em discurso, referindo-se a Dilma, que ele não era lixo, nem tampouco o PR. Naquele momento de “supimpa” solenidade, não houve, no plenário, nenhum senador governista que tivesse a cortesia ou a cortesia de pedir um aparte para estabelecer a defesa do lixo. Disse ele, neste novo discurso, que o PR é, agora, “independente”.

Se é independente, supõe-se que está livre para atuar em todas as posições. Até aí, muito bem. Mas, como a carne é fraca, e o PR preza a sua genética, Nascimento arrematou dizendo que a legenda abre mão de todos os cargos na administração federal, deixando, no entanto, a decisão de afastamento para a presidente Dilma Rousseff, já que dificilmente nenhum dos indicados pela legenda perguntará onde é a porta da saída. Nos Estados, assegurou que o problema é das bancadas. Ou seja, aqui na Bahia, por exemplo, cabe a seus deputados decidirem se entregam os postos ocupados por afilhados, ou, se outro for o entendimento, Wagner que o faça. Também nada acontecerá. O partido tem cargos de segundo escalão.

Preocupada com a governabilidade, Dilma seguramente não vai mais demitir ninguém do PR. Até porque ela não contará com o voto certíssimo de 42 deputados e seis senadores da legenda. Certamente, os líderes governistas, em nome do Planalto, de tudo farão para não os ter como adversários. São votos “cantáveis” no cambalacho tipo pé-de-ouvido, ou no breu das tocas. Segundo as contas, o PR é a quarta maior bancada, do Senado, mesmo número do PTB. Ambos têm seis senadores. A maior bancada é a do PMDB, com 20 parlamentares.

Isso significa dizer que o PR será “independente conforme se vê”, ou seja, estará sempre disposto a uma boa negociação. Deixou a base de apoio ao governo, mas colocará o avental e irá para o outro lado do balcão, na condição de mercador de “favores”, como acontece normalmente no Congresso Nacional.

Se o PR está “independente”, também está tomado pela irritação a partir da constatação de que a presidente Dilma, aconselhada por Lula para não “atiçar” o PMDB, engole o que esta legenda, especialista em clínica geral, exige. Mesmo mergulhada no lodaçal, com dois ministros, o de Agricultura, Wagner Rossi, e o do Turismo Pedro Novais, pela ordem protegido por Michel Temer e pelo eterno José Sarney, envolvidos em muitos casos de supostas corrupções, passam ao largo. Rossi, diante da imprensa, ao ser perguntado “como estava no governo”, gargalhou como bruxo voando em vassoura ao sol do meio-dia, respondeu: “Estou firme como uma rocha.” Rocha é pouco.

A presidente Dilma ao PMDB dá um tratamento especial, com “sopinha e salgadinhos”, segundo disse a ministra Ideli Salvatti no maior cinismo, qualidade cultivada pelos políticos de viés inverso. A presidente afirmou, também à imprensa, que “Rossi e Novais ficam no governo.” Não dá para entender como Dilma Rousseff abdica da condição de passar a história como uma combatente da corrupção e prefere aceitar o rótulo de “rainha do fisiologismo”, usando em seu governo dois pesos e duas medidas, a depender do partido. Assim, perde o que a opinião pública põe à frente dela: apoio para estabelecer combate e passar à história como a governante que teve a coragem de vassourar a corrupção.

Assim é. A dimensão de uma pessoa quem se dá é ela própria. Se abdica da luta é porque não merece mesmo ocupar um espaço que conquistaria à custa de ter enfrentado uma dura batalha. Vale à pena ter como adversário a corrupção. Essa é a boa batalha, esse é um bom inimigo. São em circunstâncias como tais que a história e a humanidade constroem os seus grandes vultos, os seus gigantes para serem exemplos. Ou moldam os seus anões.

PARANDO

Exaurido pela repetitiva atividade de produzir textos com as palavras “escândalo”, “corrupção” e “gatunagem”, meu computador cansou. Exigiu duas semanas distante dos estúpidos desvios éticos e morais da República. Atendi-o. Dessa forma, ele e eu estaremos ausentes deste espaço pelo tempo solicitado. Infelizmente, sem nenhuma esperança de qualquer recuperação do respeito à cidadania e à atividade pública. Até a volta.

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