quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Coluna de Samuel Celestino: A TARDE: Brasília, assim como a Bahia.




O PMDB e o PT por enquanto são aliados. As relações entre as duas legendas estão tensionadas pelas denúncias envolvendo corrupção que tanto bate no PMDB, tendo como alvo o por ora blindado ministro da Agricultura, Wagner Rossi, como cerca o PT, de onde surgem sinais de que o partido pode entrar na dança. Para que isso não aconteça, é necessário que Rossi não seja imolado.

As duas legendas precisam e dependem uma da outra e a presidente Dilma Rousseff necessita das duas. De um partido, o PT, ela é filiada e governa em seu nome. Do outro, é dependente porque nesta República ninguém governa sem o PMDB, uma legenda que prefere ser pedra de alicerce a exercer o poder indireto.

Esse é o jogo que está exposto na república da corrupção. São gato e rato que se unem na desconfiança, tendo no horizonte uma briga sinalizada. A liga entre ambos é frágil. Pode se romper a qualquer a desatenção. Se isso acontecer, os dois vãos se afogar abraçados. Difícil é prever o que acontecerá no Palácio do Planalto se tal ocorrer. O PT sabe que não pode investir contra o PMDB, porque pagará um alto preço. E o PMDB sabe que quem o segura, não por ter amor, mas por necessidade, é o PT. Duas cobras, ou uma só cobra com duas cabeças.

Se, por acaso, surgir uma nova denúncia contra o ministro da Agricultura, o afilhado de Michel Temer, ministro Wagner Rossi, o chão da Praça dos Três Poderes vai tremer. Não imaginem que esse é um cenário distante. Não é. Como costuma dizer o deputado tucano Antônio Imbassahy, “tem muita alma por aí querendo falar.” E a imprensa está a postos para gravar o que a alma (penada) disser, porque está em campanha contra a corrupção que tomou conta do Planalto Central desde o governo passado, na época do “não sei de nada, não vi, não escutei”.

Para que se entenda melhor a tênue aliança entre o PT e o PMDB, que estão abraçados e podem se afogar, basta prestar atenção no cenário baiano, que está explicito, absolutamente explícito. O PMDB de Geddel Vieira Lima quer um confronto com o PT de Jaques Wagner. Em 2012, na sucessão de Salvador, e em 2014, onde Geddel, não esconde que deseja dar o troco à derrota de 2010. Dependerá das circunstâncias. Para mostrar jogo, lançou o apresentador Mário Kertész candidato a prefeito, que aceitou o desafio na condição de a oposição sair unida em torno do seu nome. A oposição aceita até porque não tem muitas saídas, ou talvez não tenha saída nenhuma, diante do poderio político que o governador arregimentou em boa parte. A outra parte lhe caiu no colo em conseqüência da força de gravidade que o poder exibe, imantado que é.

Geddel quer, com a oposição e Mário à frente, derrotar o PT e seus aliados em Salvador no próximo ano para demarca um grande campo onde se dará a batalha de 2014 na disputa pelo governo do Estado. Por que Geddel, vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica joga tão aberto? Simples. Porque aqui as cartas são diferentes das que estão sendo distribuídas no Congresso Nacional entre o PT e o PMDB. Bom não esquecer a imagem do abraço do afogado. O PT e Dilma precisam do PMDB e o PMDB necessita do PT. Blindagem dupla. Aqui, não.

Aqui, a luta está aberta desde a metade do primeiro governo de Wagner quando houve o rompimento entre Geddel, então ministro, e ele. Briga de fim de mundo. Dilma sabe que ambos são adversários declarados e não vai mergulhar nesta guerra. Presume-se. Ou, pelo menos, imagina-se, que não cometeria o ato de afastar Geddel, pela demissão, da Caixa Econômica. Porque qualquer coisa assim teria ressonância no Congresso onde o ex-ministro da Integração é bem credenciado no PMDB, representado pelo irmão, deputado Lúcio Vieira Lima, um dos vice-líderes da legenda, logo no seu primeiro mandato. Não é por acaso. Lúcio traz na mão a bandeira que traduz a parte que cabe a Geddel no latifúndio do PMDB.

Em Brasília, o PMDB é PT e vice-versa. Aqui, o PMDB é DEM, é PSDB, é PPS e quem mais for partido de oposição. Este cenário baiano está bem exposto, num quadro com linhas e tintas definidas. Tudo isso é resultado de uma estrutura partidária viciada, mas conveniente aos partidos, daí porque a necessária Reforma Política não tem vez. Por trás do pano, muitos interesses, muitos afilhados e, fechando o pacote, o laço da corrupção.

Brasília está sob tensão. Tanto no Palácio do Planalto, onde Dilma Rousseff come o pão que o diabo amassou, ou lá deixou se assim quiserem, e no Congresso a ordem é a blindagem contra a faxina da presidente que passou a atuar jogando em duas pontas, com estratégias diferenciadas. Para o PR, gasolina e fogo; para o PMDB, muita calma nesta hora para não entronar o caldo e também porque Wagner Rossi é santo com coroa e tudo mais. Ele está, como disse à imprensa às gargalhadas, “firme como uma rocha”. Quem vai dar a estocada na onça? Claro, ninguém porque todos estão munidos de panos quentes, menos o PR, tiririca, assim como o seu deputado.

Mas “se uma alma falar” e denunciar fatos que não vieram (se existirem) à tona, a imprensa cumprirá com a sua razão de existir num estado democrático. Bem, nesse caso a República mergulha em crise profunda, maior do que o somatório da crise econômica que vem de fora com a crise política interna que já faz muito ruído.

*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta quinta-feira (11).

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