Demóstenes Torres
tropeçou no seu próprio "mensalão". Exatamente como aconteceu com o
PT em 2005, depois de passar vários anos fazendo o papel de vestal, de
missionário da ética e impiedoso acusador dos desencaminhados, o senador goiano
foi desmascarado pela evidência irrefutável de que mantém relações promíscuas
com o notório Carlinhos Cachoeira, chefão da jogatina, cujos interesses escusos
tem defendido junto à administração pública. Até aí, tudo igual ao que se tem
assistido na política. A diferença está no comportamento dos partidos
envolvidos em escândalos. O PT nega até hoje a existência do plano urdido e
executado por José Dirceu para compra de apoio parlamentar ao governo Lula e
age politicamente para blindar os réus do processo que se arrasta no STF. O
DEM, como já fizera no caso do ex-governador do Distrito Federal José Roberto
Arruda, de imediato cobrou publicamente explicações de seu filiado, num
procedimento que inevitavelmente resultaria numa expulsão - que só não ocorreu
porque Demóstenes se antecipou e pediu desligamento do partido.
O comportamento de Demóstenes Torres é imperdoável,
principalmente pela profunda decepção que causou aos homens de bem que viam
nele um denodado defensor da ética na política. Foi ele quem declarou, em 2007,
na condição de relator da CPI do apagão aéreo, que "corrupção é um negócio
suprapartidário" e que "os malandros estão em todos os governos"
- e ele bem o sabia. Hoje, para regozijo dos corruptos, sobre Demóstenes Torres
alguém poderá afirmar o mesmo que ele próprio afirmou sobre seu
ex-correligionário José Roberto Arruda, forçado a renunciar ao governo do
Distrito Federal por seu envolvimento no chamado "mensalão do DEM":
"É um bandido, um delinquente, um vagabundo".
Os desdobramentos desse lamentável episódio nos campos da
política e da Justiça são imprevisíveis num país em que o império da lei
costuma ser muito relativo. O próprio Demóstenes já estaria convencido de que
está "politicamente morto". Mas o fato é que, com seu condenável
desvio de comportamento no exercício de um mandato que conquistou nas urnas e
não soube honrar, Demóstenes Torres se revelou mais um agente - e beneficiário
- da alarmante contaminação do ambiente político-institucional pela lassidão
moral e ética, que vem acompanhada pela tolerância a "malfeitos"
praticados por quem frequenta os círculos do poder e, consequentemente, pelo
sentimento de impunidade que torna cada vez mais insaciáveis e ousados os
bandidos travestidos de homens públicos.
Menos mal que a liderança do DEM se revelou mais uma vez atenta
à necessidade de cortar pela raiz as ameaças a sua imagem pública, tratando de
evitar que o comportamento criminoso de um de seus mais destacados líderes
viesse a comprometer a credibilidade política do partido. Em acentuada
decadência nos últimos anos, em termos de representatividade eleitoral, um
escândalo dessas proporções poderia levar a legenda a um beco sem saída. De
qualquer modo, a atitude dos democratas é exemplar, principalmente se comparada
à de outros partidos, entre eles muitos dos que se aconchegam na base aliada,
PT e PMDB à frente. Para esses, que como paradigma preferem os líderes que
passam a mão na cabeça de seus "aloprados", parece prevalecer o
princípio de que ética é uma coisa muito simples: basta não ser pego com a boca
na botija.
O desmascaramento do falso moralista Demóstenes Torres sugere
ainda uma reflexão relativa ao pivô do imbróglio, o notório Carlinhos
Cachoeira. Há quase dez anos esse meliante se envolveu em episódio de suborno
que se transformou no primeiro de uma longa série de escândalos de corrupção do
governo Lula. Trata-se, portanto, de figura conhecida. No momento - mas
provavelmente não por muito tempo - permanece detido por ordem da Justiça, a
pedido da PF, que investiga o jogo ilegal em Goiás. Até onde terá chegado esse
indivíduo, agindo com desenvoltura - e impunemente - há anos, graças a suas
privilegiadas relações políticas?
Fonte: www.estadao.com.br
DEM, DEM, DEM...
ResponderExcluirA cara de vcs nem arde!
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