Se você for à
Estação de Mussurunga, uma das opções de transbordo de transporte coletivo de
Salvador, e perguntar onde fica o banheiro, a primeira coisa que irá ouvir,
antes da resposta sobre a localização do sanitário, é uma recomendação. O
conselho, dado por vendedores e passageiros da estação, é para evitá-lo. O
motivo? As dependências são imundas, com sujeira nas privadas, pias, paredes e
no chão, e o mau cheiro exala por toda a estação. A sujeira, resultado da
manutenção que deixa a desejar, a falta de estrutura e o descaso não são
problemas que se resumem, contudo, à esta estação. Informações do jornal A
Tarde.
Os usuários dos outros três terminais rodoviários da capital
baiana - Lapa, Pirajá e Iguatemi – convivem com os mesmos problemas
diariamente. As condições precárias dos terminais, rotas de ligação que cortam
toda Salvador e que, juntas, recebem, por dia, 685 mil pessoas, têm levado os
próprios vendedores desses locais a criar alternativas para continuar
trabalhando nos espaços.
Em Mussurunga, onde circulam diariamente 30 mil passageiros, os
ambulantes desembolsam R$1 para limpar os banheiros; na Lapa, cuja passagem de
pessoas chega a 460 mil, sendo o maior e mais importante terminal da cidade, os
vendedores autônomos pagam por segurança à noite; e no Iguatemi, uma média de
65 mil passageiros, os próprios comerciantes da região acabam se virando.
Na última segunda-feira, 9, um deles retirou a vassoura ao lado
da sua pequena barraca e começou a varrer a área onde os passageiros circulam,
no final da tarde, quando o movimento começa a aumentar.
Mesmos problemas - Em todos os terminais existem os mesmos problemas: falta de
estrutura, de higiene e insegurança. Cada um deles em maior ou menor grau. Na
Estação Mussurunga, cujas linhas de ônibus ligam bairros como Itapuã, Jardim
das Margaridas e São Cristóvão ao centro da capital, a sujeira dos banheiros é
o que mais incomoda. Todos reclamam da falta de manutenção nos sanitários da
estação, inaugurada em 2001. Segundo os vendedores, não há funcionários para
realizar a limpeza, por isso tiram do próprio bolso.
Ainda assim, muitos preferem evitar usar os banheiros. As
ambulantes Laíra dos Santos, de 27 anos, e Tânia Maria, 48, são algumas delas.
As duas contam que muitas vezes acabam pedindo para usar o banheiro da
administração do local por conta da falta de condições. "O banheiro é sujo
demais, não dá. Todo mundo que entra, sai na mesma hora, porque o fedor lá
dentro é insuportável", conta Laíra, que comercializa balas e doces no lugar.
Se em Mussurunga a situação dos banheiros é a principal
reclamação, na Lapa, a maior queixa é sobre a falta de segurança, segundo
vendedores e usuários da estação. Lá, não é incomum encontrar alguém que já
presenciou um assalto, furto ou mesmo já foi vítima. Do vendedor de pipoca a
uma aposentada que passa pelo local uma vez ao mês para receber o salário,
quase todo mundo tem histórias para contar sobre os furtos e roubos na região.
Um vendedor, que conversou com a reportagem na condição de não
revelar a sua identidade, passou a pagar por segurança depois de ter sido
roubado. Segundo ele, policias militares fazem ronda na região, mas a
quantidade de agentes e o tempo que eles permanecem fazendo o policiamento são
insuficientes. "Meu carrinho de trabalho já foi arrombado várias vezes.
Para me garantir, hoje, tiro do meu bolso para pagar segurança".
A aposentada Maria Lúcia Garcia das Neves relatou que, além dos
assaltos que já presenciou, foi perseguida por dois homens em um domingo à
tarde, no final do ano passado. "Se eu não corresse, seria assaltada, com
certeza. Eles só pararam de me seguir quando alcancei o despachante, no final
do terminal", contou.
Além da insegurança, os frequentadores da estação convivem
diariamente com uma realidade bem pouco agradável aos olhos. As paredes e
plataformas são sujas e escuras, há fios descobertos em algumas áreas, e no
chão sempre há lixo, além dos cartazes velhos e sujos pregados por toda parte,
com oferta de serviços, aviso de desparecidos e até de partidos políticos. Os banheiros
também estão em péssimo estado.
No primeiro andar, o sanitário feminino tem portas quebradas e
cabines interditadas. Das 13 cabines, cinco estão sem portas e duas não
funcionam. Já as pias, das 12, somente duas podem ser utilizadas. As outras
estão amarradas com sacos. Muitos vendedores acabam recorrendo ao shopping que
fica ao lado devido à falta de estrutura, como José Jesus dos Santos, 24:
"Aqui não dá. Algumas vezes, nem água tem para lavar as mãos".
Na Lapa, a construção de novos sanitários no subsolo da estação,
possibilitará, segundo a Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), a interdição e
reforma dos banheiros do primeiro piso. No subsolo, será melhorada a ventilação
e a iluminação do espaço, conforme comunicado enviado pela assessoria da PMS,
sobre uma reforma iniciada no ano passado. Inaugurada em novembro de 1982, a
estação já passou por diversas reformas, sendo que a última foi realizada em
2000. Algumas intervenções foram realizadas depois desse ano, mas os reparos
foram pontuais.
Arrombamentos - Em Pirajá, onde mais de 170 coletivos fazem a ligação de bairros
mais periféricos como Castelo Branco, Águas Claras e Valéria ao centro de
Salvador, a maior reclamação também é sobre a insegurança. Lá, os relatos dão
conta de casos de arrombamento de bancas e assaltos aos passageiros durante à
noite, embora tenha uma unidade do Grupo Especial de Repressão ao Roubo em
Coletivos (Gerrc) no pátio da estação, construída em 94.
As queixas são de muitos. Para o ambulante Jorginaldo Araújo
José, "a segurança deveria ser fixa, e não ser feita por PMs em
ronda". Outro vendedor, José Aquino dos Santos, diz nunca ter visto, em
anos de trabalho, a Estação Pirajá "tão abandonada". Já o vendedor
autônomo Carlos André Duarte, que vai ao local todos os dias para trabalhar,
lamenta a precariedade. "Infelizmente, preciso estar aqui todos os dias
para pegar ônibus".
A reportagem procurou a assessoria da Prefeitura de Salvador
durante uma semana, mas até a publicação desta matéria não obteve resposta
sobre a existência de projetos de melhoria para as estações citadas no texto.
Fonte: www.acmneto.com.br
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