A intenção do governo aparentemente é muito boa:
reduzir a conta de luz em 20% para a população e a indústria.
Mas o que poderia ser feito com medidas como redução
de impostos e do custo Brasil pode ocorrer na marra, na intervenção pura e
simples no mercado. Por uma medida provisória, a 579, a pretensão é abaixar os
preços na canetada.
O resultado está aí. Em três dias, a Eletrobras, maior
geradora de energia elétrica do hemisfério sul, perdeu um terço de seu valor de
mercado. Apenas na última segunda-feira a queda das ações da estatal foi de
15,4%.
Os acionistas simplesmente perceberam que quando as
novas regras entrarem em vigor a empresa não terá condições de pagar dividendos.
Nas inexoráveis regras do mercado a consequência foi lógica: vender os papeis,
e quanto mais rápido melhor.
O preço das ações da Eletrobras caiu ao nível de
agosto de 2005. A Eletrobras perdeu R$ 1,8 bilhão em valor de mercado somente
anteontem e assistiu ao desaparecimento de R$ 7,9 bilhões desde 11 de setembro,
quando foi publicada a MP 579.
Ao longo deste ano, a estatal já perdeu R$ 15,2
bilhões em valor de mercado.
Ontem, foi a vez das ações da Eletrobras caírem na
bolsa de Nova Iorque em 6,6%.
De acordo com os analistas do setor, a única saída é a
capitalização da empresa. Mas se o aporte ocorrer por meio de recursos públicos
o governo estará fazendo a tradicional cortesia com chapéu alheio. Por um lado
a população paga menos pela energia e por outro subsidia uma estatal
deficitária por meio de impostos.
Como é controlada pela União, a Eletrobras não tem
saída. Precisará aceitar as regras do governo contidas na MP 579. Além disso,
de acordo com as novas determinações, os R$ 31 bilhões que precisaria receber
do governo por investimentos já feitos e ainda não amortizados serão reduzidos
para R$ 14 bilhões.
A colunista de O Globo, Miriam Leitão fez
os cálculos: até 2017 a perda da Eletrobrás será de 20 bilhões em perda de
receitas e R$ 17 bilhões na falta de indenizações. A soma é de R$ 37 bilhões.
Em outras palavras, a empresa está praticamente quebrada.
O prejuízo se estende a outras operadoras, como a
Cemig e a Cesp. Por uma política populista, o governo pretende fazer uma ação
de terra arrasada. Ontem, o senador Aécio Neves praticamente bateu boca com o
secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Marcio Zimmermann, um
dos idealizadores das mudanças no setor.
Em entrevista publicada hoje na Folha de S.
Paulo, o ex-presidente da Eletrobras, Luiz Pinguelli Rosa diz que
apoia a luta da presidente Dilma Rousseff para abaixar as tarifas, mas condenou
os métodos utilizados pelo governo. Para ele, se nada for alterado,
nem o consumidor vai obter a almejada redução de tarifas.
“O governo deveria voltar atrás, rediscutir as tarifas
e talvez atacar por outro lado. Tem que discutir qual a remuneração mínima para
ter uma sobrevivência econômica adequada das empresas”, afirmou Rosa.
Diminuição de tarifas sim, mas sem destruir o
patrimônio público e privado do brasileiro. Dessa maneira o barato tende a sair
muito caro. Os apagões, no caso, podem até ser uma consequência menor.
Fica a pergunta: com uma mudança de regras tão brusca
e feita dessa maneira, que empresário terá coragem de investir no setor
elétrico brasileiro daqui para frente?
Fonte: Imprensa Democratas
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