Ex-chefe de gabinete da Presidência em SP usou cargo para agendar reunião do governador da Bahia com pessoas ligadas a Paulo Vieira.
Rosemary Noronha usou seu cargo como chefe de gabinete da
Presidência da República em São Paulo para agendar uma reunião do governador da
Bahia, Jaques Wagner (PT), com empresários ligados a Paulo Vieira - diretor
afastado da Agência Nacional de Águas, apontado pela Polícia Federal como chefe
de uma quadrilha que comprava pareceres técnicos.
Rose foi indiciada
por tráfico de influência na Operação Porto Seguro, por articular reuniões
entre autoridades e pessoas ligadas a Paulo. Em troca de audiências com o
governador baiano e outros ocupantes de cargos públicos, segundo a
investigação, a ex-chefe de gabinete recebeu "favores", como viagens
de navio.
E-mails interceptados pela PF mostram que Paulo pediu a Rose
que marcasse uma audiência com Wagner em fevereiro de 2009 para Carlos Cesar
Floriano, do grupo Tecondi, e Alipio José Gusmão, do grupo Formitex. Os dois
estavam interessados em pedir incentivos fiscais ao governo baiano para
reativar uma fábrica do setor químico no Centro Industrial de Aratu, na região
metropolitana de Salvador. O negócio não se concretizou, segundo o gabinete de
Wagner.
"Compramos uma área na Bahia. É uma área grande, onde
funcionava a fábrica da Dow Química. Temos intenção de reativá-la e também
ampliá-la. O presidente do nosso grupo gostaria de uma audiência com o
governador. Você tem como ajudar nesse agendamento?", pede Floriano a
Paulo em 9 de janeiro de 2009.
Rosemary levou 19 dias para agendar a reunião. "Acertei
com o governador Jaques Wagner a audiência com o sr. Alipio (TECONDI). Pode
falar em meu nome", afirmou Rose por e-mail.
Nos dias seguintes, Paulo diz a Floriano que a audiência foi
"pedida diretamente" ao governador. "A agenda com o senhor
governador da Bahia foi marcada para a próxima quarta (04/02/09). A audiência
foi pedida diretamente ao senhor governador da Bahia pela Dra. Rosemary Nóvoa
de Noronha", escreveu Paulo.
Wagner recebeu Alipio e Floriano às 16h do dia 4 de fevereiro
de 2009, na sede do governo baiano, em Salvador.
Na mesma noite, César Floriano comemorou o resultado da
reunião. "Os diretores do nosso grupo ficaram muito bem impressionados com
a visita. Nosso projeto foi muito bem recebido e está em linha com
investimentos que o governo deseja", escreveu Floriano em e-mail a Paulo.
"Também gostaria de agradecer a Rose. Aliás, se você achar conveniente,
gostaria de agradecê-la pessoalmente."
No mês seguinte, Paulo ofereceu a Rosemary uma viagem em um
cruzeiro que tinha apresentações da dupla sertaneja Bruno & Marrone. A
investigação aponta que a empresa responsável pelas passagens pertence a
Floriano.
A assessoria de Jaques Wagner confirmou que o governador
recebeu Alípio Gusmão e César Floriano em uma "audiência
institucional" marcada a pedido da "secretaria do gabinete da
Presidência da República em São Paulo". No sábado, a equipe de Wagner
havia informado ao Estado que o governador jamais havia sido procurado por Rose
"para manter contato com qualquer pessoa".
O gabinete alega que o governador não tem "relação
alguma" com Rosemary, mas admitiu que ele a conhece, em função do cargo
que ela ocupava. O governo declarou ainda que não favorece empresários e que
qualquer incentivo fiscal só é concedido após uma análise formal dos projetos
em desenvolvimento.
Fonte: Estadão.com.br
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