Vice-presidente do Democratas federal, José
Carlos Aleluia (BA) chama de “golpe na democracia” a decisão do STF de
conceder tempo de tevê e financiamento público a legendas novas como o PSD do
prefeito paulistano Gilberto Kassab.
“Poderão surgir várias candidaturas à Presidência, à semelhança da de
Fernando Collor”, disse Aleluia em entrevista ao blog. “O Supremo abriu a
possibilidade para que apareçam aventureiros nas eleições presidenciais.” De
resto, avalia que, a partir de agora, deputados vão “vender” o fundo
partidário. Abaixo, a entrevista:
Em que medida o Democratas será afetado? Perdemos tempo
de propaganda e algum dinheiro do fundo partidário. Mas a decisão é absurda não
apenas para o Democratas, mas para o futuro da democracia. Não foi um golpe no
nosso partido apenas, porque todos os partidos perderam alguma coisa. Foi um
golpe na democracia. O PT não sabe o mal que cometeu contra si próprio ao
estimular o Kassab a formar um partido.
Por quê? Porque poderão surgir várias candidaturas à Presidência, à semelhança
de Fernando Collor. O Supremo abriu a possibilidade para que apareçam
aventureiros nas eleições presidenciais.
Como assim? O Collor surgiu num cenário desse tipo. Se você tem um quadro em que
a economia pode levar o governo para o buraco e as oposições estão
desestruturadas, podemos chegar à eleição com candidatos ao estilo do caçador
de marajás. Agora, qualquer vendedor de sonhos pode criar um partido com
dinheiro de má origem e tentar estabelecer um novo ciclo parecido com o que foi
o de Collor.
Acha que o PT tem responsabilidades nesse processo? É evidente que o PT e o governo trabalharam por
isso. Essa é a tática chavista: desestruturar os partidos de oposição e criar
alternativas partidárias que apoiem o seu lado. Isso está acontecendo em vários
países. À primeira vista, o governo ganha, mas só se ele estiver bem. Se a
economia descer a ladeira, o governo não estará bem em 2014. E seria bom para a
democracia e para o país ter um projeto alternativo. Com a decisão do Supremo,
esse projeto também fica prejudicado.
Por quê? Porque agora você tem a possibilidade de surgimentos de vários
projetos. E quando há muitos, não tem nenhum. O cenário ficou inteiramente em
aberto. E há, insisto, o risco de surgimento do aventureiro. Esse tipo de
personagem pode aparecer do nada, a qualquer hora, sem nenhum tipo de tradição,
sem vinculação política e estrutura partidária. Hoje, ninguém pode dizer que
tem estrutura partidária.
Refere-se ao fato de o Supremo ter reconhecido o
direito de o deputado levar os votos obtidos por uma legenda para outra
agremiação? Exatamente.
Na próxima eleição, podemos ter partidos de igrejas, de corporações… Os lobbies
vão formar seus partidos. No sistema que passou a vigorar, o Carlinhos
Cachoeira, que pensou em comprar um partido, pode agora formar sua legenda.
Podemos ter o partido do bandido, o partido da religião A, o da religião B.
Acha mesmo que isso pode ocorrer? Não só isso, mas coisa pior. O deputado que for desonesto passa a ser,
agora, o dono do fundo partidário. Elegendo-se, ele vai vender o fundo
partidário. Vai querer receber uma cota do fundo a vista. Vai dizer: ‘quero o
meu todo mês. Do contrário, vou fundar outro partido.’ Trabalhamos duro para
acabar com as emendas que eram conhecidas como ‘rachadinhas’ do Orçamento.
Agora vai surgir o fundo partidário da rachadinha.
O que será do Democratas? Vamos continuar sendo um partido de ideias, uma legenda de centro direita,
uma alternativa à disposição dos eleitores. Temos que sacudir a poeira e ir
para a eleição. Tudo isso sabendo que as eleições já não garantem mais nada. Os
partidos ficaram fragilizados. Todos, sem exceção. Passaram a ser reféns de
deputados que são, agora, detentores de algo que não é deles. As ideias
perderam valor. Acho impressionante que o Supremo tenha feito uma uma coisa
dessas com o Brasil. Lamentável.
Fonte: Blog do Josias
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