Confrontado com uma inflação de 6,59%
nos últimos doze meses, o governo parece ainda não ter percebido a gravidade da
informação. Por meio de seus representantes, alegou que se tratava de uma
elevação sazonal, sob controle, concentrada nos alimentos, e em breve os
índices voltariam para abaixo do teto da meta do Banco Central, que é de 6,5%.
Por exemplo, nas palavras do ministro da
Fazenda, Guido Mantega, não seria necessário um “tiro de canhão” para combater
a inflação. Bastaria, segundo ele, uma
“metralhadora".
Desde o início do governo Dilma
Rousseff, a inflação nunca esteve abaixo do centro da meta estipulada pelo BC,
que é de 4,5%.
A história brasileira, entretanto, tem
sido cruel com todos os governantes que menosprezaram o potencial da inflação:
Em 1977, à porta de mais um longo surto inflacionário,
o então ministro da Fazenda, Mario Henrique Simonsen, disse que a alta de
preços se circunscrevia aos alimentos, a mesma justificativa de hoje.
Em 1983, o então presidente do Banco Central, Affonso
Celso Pastore, previu que a inflação baixaria “em agosto”. Só em torno de
agosto de 1994 os preços de fato se estabilizaram, com o Real.
Neste 2013, um alimento, o tomate, por
ter aumentado 122% em um ano, foi tido como o vilão da alta dos preços. Mas é
preciso considerar também os aumentos da batata (97%), cebola (76%), arroz
(30%) e feijão-preto (25%), entre outros.
Mas a inflação, na verdade, é muito mais
dura com a parcela mais pobre da população. Como os aumentos de preço têm
atingido, sobretudo, os alimentos, a inflação para a baixa renda está em torno
de 13%. O processo inflacionário precisa ser encarado, portanto, como uma chaga
social.
Inflação significa perda de poder de
compra. Um dos setores que mais cresceu nos últimos 10 anos, o dos
supermercados varejistas, teve queda nas vendas de 2,1% em fevereiro deste ano
em comparação com o mesmo mês em 2012.
Entre as famílias de renda mais pobre, a
queda nas vendas foi de 4%, informou a Associação Brasileira de Supermercados
(Abras).
Todas as armas que o governo tem ao seu alcance para
combater a inflação são impopulares: corte de gastos, aumento dos juros e
diminuição do crédito. Como se trata de um governo que parece ter como única
bússola as eleições e a popularidade, há certa razão para o ceticismo.
O governo tentou forçar a queda dos preços por meio da
desoneração de impostos. Com isso, pensava em diminuir o valor de alimentos
como carne e manteiga em cerca de 10%. Na média, o preço dos produtos que
tiveram os tributos zerados caiu somente 0,5%.
Para colunista do Estado de S.
Paulo, Celso Ming, haveria uma chance de o governo evitar uma alta de juros
para combater a inflação: ser mais austero e deixasse de valorizar ainda mais o
Real. Enquanto isso, ele alerta para o risco de os reajustes inerciais
ameaçarem ainda mais o controle dos preços.
O combate à inflação não tem sido o forte do governo
nem de seus aliados. Por exemplo, no último ano de José Sarney como presidente
do Brasil, 1989, a inflação atingiu inacreditáveis 1.973%. A média por mês foi
de 82%.
Entre 1979 e 1994, a inflação acumulada chegou a 13,3
trilhões por cento. Entre 1964 a 1994, a inflação acumulada chegou a 1
quatrilhão e 302 trilhões por cento.
Pelo menos, ao que tudo indica, a
população tem estado alerta. Não se convenceu com as desculpas do governo e de
maneira bem-humorada mostrou que por trás de aumentos exponenciais do preço do
tomate há um risco de descontrole que pode ser letal para os avanços
conseguidos nos últimos 20 anos.
Enquanto em países populistas como
Argentina e Venezuela a inflação já ultrapassou a casa dos 20%, em nações com
governos mais responsáveis a alta de preços não chega a 4%. Ano passado o Chile
registrou 1%, a Colômbia,1,8%; o Peru, 2,6%, e o México, 3,6%.
Resta saber para que lado iremos seguir.
Fonte: Assessoria Democratas
Nenhum comentário:
Postar um comentário