segunda-feira, 15 de abril de 2013

A inflação à espreita



Confrontado com uma inflação de 6,59% nos últimos doze meses, o governo parece ainda não ter percebido a gravidade da informação. Por meio de seus representantes, alegou que se tratava de uma elevação sazonal, sob controle, concentrada nos alimentos, e em breve os índices voltariam para abaixo do teto da meta do Banco Central, que é de 6,5%.

Por exemplo, nas palavras do ministro da Fazenda, Guido Mantega, não seria necessário um “tiro de canhão” para combater a inflação. Bastaria, segundo ele, uma “metralhadora".

Desde o início do governo Dilma Rousseff, a inflação nunca esteve abaixo do centro da meta estipulada pelo BC, que é de 4,5%.

A história brasileira, entretanto, tem sido cruel com todos os governantes que menosprezaram o potencial da inflação:

Em 1977, à porta de mais um longo surto inflacionário, o então ministro da Fazenda, Mario Henrique Simonsen, disse que a alta de preços se circunscrevia aos alimentos, a mesma justificativa de hoje.

Em 1983, o então presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, previu que a inflação baixaria “em agosto”. Só em torno de agosto de 1994 os preços de fato se estabilizaram, com o Real.

Neste 2013, um alimento, o tomate, por ter aumentado 122% em um ano, foi tido como o vilão da alta dos preços. Mas é preciso considerar também os aumentos da batata (97%), cebola (76%), arroz (30%) e feijão-preto (25%), entre outros.

Mas a inflação, na verdade, é muito mais dura com a parcela mais pobre da população. Como os aumentos de preço têm atingido, sobretudo, os alimentos, a inflação para a baixa renda está em torno de 13%. O processo inflacionário precisa ser encarado, portanto, como uma chaga social.

Inflação significa perda de poder de compra. Um dos setores que mais cresceu nos últimos 10 anos, o dos supermercados varejistas, teve queda nas vendas de 2,1% em fevereiro deste ano em comparação com o mesmo mês em 2012.

Entre as famílias de renda mais pobre, a queda nas vendas foi de 4%, informou a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Todas as armas que o governo tem ao seu alcance para combater a inflação são impopulares: corte de gastos, aumento dos juros e diminuição do crédito. Como se trata de um governo que parece ter como única bússola as eleições e a popularidade, há certa razão para o ceticismo.

O governo tentou forçar a queda dos preços por meio da desoneração de impostos. Com isso, pensava em diminuir o valor de alimentos como carne e manteiga em cerca de 10%. Na média, o preço dos produtos que tiveram os tributos zerados caiu somente 0,5%.

Para colunista do Estado de S. Paulo, Celso Ming, haveria uma chance de o governo evitar uma alta de juros para combater a inflação: ser mais austero e deixasse de valorizar ainda mais o Real. Enquanto isso, ele alerta para o risco de os reajustes inerciais ameaçarem ainda mais o controle dos preços.

O combate à inflação não tem sido o forte do governo nem de seus aliados. Por exemplo, no último ano de José Sarney como presidente do Brasil, 1989, a inflação atingiu inacreditáveis 1.973%. A média por mês foi de 82%.

Entre 1979 e 1994, a inflação acumulada chegou a 13,3 trilhões por cento. Entre 1964 a 1994, a inflação acumulada chegou a 1 quatrilhão e 302 trilhões por cento.

Pelo menos, ao que tudo indica, a população tem estado alerta. Não se convenceu com as desculpas do governo e de maneira bem-humorada mostrou que por trás de aumentos exponenciais do preço do tomate há um risco de descontrole que pode ser letal para os avanços conseguidos nos últimos 20 anos.
Enquanto em países populistas como Argentina e Venezuela a inflação já ultrapassou a casa dos 20%, em nações com governos mais responsáveis a alta de preços não chega a 4%. Ano passado o Chile registrou 1%, a Colômbia,1,8%; o Peru, 2,6%, e o México, 3,6%.

Resta saber para que lado iremos seguir.

Fonte: Assessoria Democratas 

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