sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

É o consumo, estúpido



A presidente Dilma Rousseff termina o ano com aprovação entre ótimo e bom em 62%, de acordo com pesquisa Datafolha publicada no último domingo. Para o Ibope, em sondagem divulgada na semana passada, chega a 78% o índice de brasileiros que aprovam o jeito de Dilma de governar.

Os números revelam algumas aparentes contradições. Por exemplo, segundo o Datafolha, chega a 52% o índice de brasileiros que consideram a política federal para saúde ruim ou péssima. Já 62% desaprovam a área de segurança pública. Os escândalos de corrupção explodem quase semanalmente.A impressão é a de que um governo muito bem avaliado, quando destrinchado, está péssimo em cada um de seus setores. De fato, pode ser isso.

Na educação, o Brasil fica em 88º lugar no ranking da Unesco de 127 Países. No IDH, patinamos na 84ª colocação entre 187 Países.

A paralisação do PIB é evidente. Devemos crescer apenas 1% este ano, o pior País da América Latina com exceção do Paraguai. Entre os Brics, o lanterna.

Com os maus números daqui, a Inglaterra voltou a ultrapassar o Brasil entre as maiores economias do mundo.

Com relação à infraestrutura, a Confederação Nacional dos Transportes, em estudo divulgado no final de outubro, mostrou que a 29,3% das rodovias brasileiras estão em condições ruins ou péssimas: são mais de 28 mil quilômetros na precariedade. Apenas 37% da malha está em bom estado.

Há o atraso de grandes obras como a ferrovia Transnordestina, a Norte-Sul, e a transposição do rio São Francisco, entre muitas outras. Os prazos já foram estourados e as novas previsões são consideradas fictícias.

No caso da transposição, em particular, a previsão era para ser concluída em março de 2010 e o orçamento total de US$ 4,8 bilhões. Hoje, mais de dois anos e meio após o fim do cronograma, já foram gastos US$ 3,8 bilhões e apenas 40% da obra está pronta. Dos dezesseis lotes licitados, cinco contratos foram rescindidos. O orçamento pulou para R$ 8,2 bilhões.

Segundo a equipe de orçamento do Democratas, em consulta ao Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI), este ano o governo só liberou para a Transposição R$ 272 milhões dos R$ 1,35 bilhão autorizados (20,2%).

No setor elétrico, os apagões se tornaram uma ameaça constante. O Brasil só não está em processo de racionamento porque a economia não tem crescido de maneira satisfatória.

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica, as interrupções de fornecimento crescem desde 2006. Nos últimos três anos, os registros ficaram bem acima do limite máximo admitido pelas regras de operação do setor.

Com relação à Copa, a eficiência parecem ter se limitado à construção dos estádios. As obras da chamada mobilidade urbana, como linhas de metrô e novas avenidas mal saíram do papel. Corre o risco de o campeonato acabar sem que a população veja seu cotidiano melhorado pelo legado do Mundial.

A carga tributária, não custa repetir, já está em 35% do PIB. Enquanto isso, o índice de investimentos fica em 18,7% enquanto o mínimo deveria ser de 25%.

Entraves em outros setores como aeroportos, portos, armazéns, ferrovias, burocracia tornam o Brasil um dos piores para se investir no mundo. O mais recente levantamento sobre o tema, o "Doing Business 2013”, divulgado pelo Banco Mundial, coloca o Brasil na 130ª posição entre 185 economias se o critério for a abertura de negócios.

Em outro ranking de competitividade organizado pela Confederação Nacional da Indústria, que compara 14 Países com economia parecida com a brasileira, ficamos em penúltimo lugar, à frente apenas da Argentina.

Com tantos problemas sérios fica a questão: como pode o governo ser tão popular?

Uma das respostas está, sem dúvida, nas taxas de desemprego, uma das mais baixas em todos os tempos, 5,3%, quase o equivalente ao pleno emprego.

Os dados do consumo são também bastante impressionantes. Desde o início do governo Lula, brasileiros de todas as unidades da federação mais do que dobraram seu poder de compra. O índice preciso é de 113% em todo território nacional, segundo o IBGE. E essa ascensão tem superado crises internacionais e baixos números do PIB.

Por exemplo, de acordo com o IBGE, apenas nos últimos 12 meses, o valor em compras feitas por brasileiros nas redes varejistas cresceu 7,6%. O índice continua em ritmo de crescimento chinês. No quesito mais sensível à popularidade, o bolso, o governo não tem deixado a crise chegar à população.

O governo tem aproveitado toda a maré internacional direcionada à compra de produtos primários que temos costume de vender, como minério de ferro e soja, para arrecadar como nunca, aumentar orçamentos de transferência direta, subir o salário mínimo de maneira real, e distribuir crédito à população. Com tantos novos produtos em casa (supérfluos ou não), difícil considerar um governo ruim.

Mesmo com as evidentes dificuldades estruturais e a inoperância do Estado, a elevação de renda permitiu ao Brasil ser o País onde houve mais avanços sociais entre 2006 e 2011, de acordo com estudo da Consultoria Internacional Boston Consulting Group.

Mas, como se pode perceber, apesar dos avanços sociais, o governo tem deixado de lado as ações que podem fazer o Brasil andar com as próprias pernas, sem utilizar a conjuntura como muleta. Na linguagem popular, pode estar matando a galinha dos ovos de ouros ao manter uma ascensão social insustentável sem reformas. Conquistas não estruturais como a renda e o emprego podem acabar de um dia para outro e teremos um País com más condições para a economia se desenvolver sozinha.

Como partido da oposição, o Democratas reconhece os avanços, mas considera um dever alertar para os riscos. O Brasil precisa superar seus principais entraves para garantir o desenvolvimento efetivo da população, sem depender de fenômenos que podem ser passageiros.

Fonte: Imprensa Democratas

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