Até mesmo para fugir do tiroteio dos aliados que gritam “fora
Dilma e volta Lula!”, marqueteiros e emissários do governo tentam passar
uma mensagem de otimismo. Apostam que a presidente irá recuperar seus grandes
índices de popularidade até outubro.
Invocam até a trajetória do ex-presidente Lula no mensalão, que
após sangrar durante quase um ano, sagrou-se vencedor nas eleições
presidenciais de 2006.
Mas ao apresentar esse tipo de análise, os ainda defensores de
Dilma deixam de lado dois fatores fundamentais.
Um deles é político: mesmo com 39 ministérios, a base governista
está esfacelada. Partidos como PP, PSB, PDT e mesmo o ultragovernista PSD de
Kassab já recuam do apoio automático a Dilma em 2013.
A desarticulação política é tão grande que a presidente Dilma
precisou divulgar, no último sábado, uma nota em que nega que fará uma reforma
ministerial.
Mas a safra de más notícias para o governo vem principalmente na
economia. Enquanto, a partir de 2006, Lula passou a se beneficiar do forte
crescimento econômico e do consumo, a trajetória para Dilma parece estar
descendente. Alguns índices do governo mostram isso com clareza.
A criação de emprego reduziu 48% em maio com relação a abril. Os
72 mil novos postos de trabalho são o pior resultado desde 1992. No acumulado
dos cinco primeiros meses deste ano, segundo o Ministério do Trabalho, foram
criadas 669,2 mil vagas formais de emprego. Isso representa uma queda de 23,7%
frente ao mesmo período do ano passado – quando foram abertas 878 mil vagas
A indústria caiu 2% de maio em relação a abril. A queda atingiu 20
dos 27 setores analisados pelo IBGE.
A balança comercial registrou o pior déficit em 18 anos, de US$ 3 bilhões no primeiro semestre deste ano. As
exportações somaram R$ 114,5
bilhões e as importações R$ 117,5 bilhões.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reduziu, quinta-feira
passada, a previsão de crescimento da economia brasileira para 2% neste ano. A estimativa anterior
era de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescesse 3,2%. O mesmo ocorre com a
OCDE, que prevê mais crescimento para os EUA e países da zona do Euro e
paralisia no Brasil.
A Bolsa de Valores de São Paulo encerrou o primeiro semestre com
uma queda de 22,14%, o pior resultado para o período de
início de ano desde 1972. Quando se leva em conta também o período de fim de
ano, a Bovespa teve em 2013 o pior desempenho semestral desde 2008, quando caiu 44% no segundo semestre.
E para lidar com a situação, o governo deteriora ainda mais as
contas públicas. Levantamento do economista Mansueto Almeida mostra que o
governo tem esvaziado cofres para ajudar bancos públicos.
Em maio deste ano o volume emprestado pelos bancos públicos (R$
1,23 trilhões) praticamente empatou com o volume emprestado pelos bancos
privados (R$ 1,25 trilhões) e, nos próximos meses, os bancos públicos devem
ultrapassar o volume de empréstimos dos bancos privados.
O total dos empréstimos do Tesouro Nacional para bancos públicos
era de apenas R$ 14 bilhões (0,4% do PIB), no final de 2007, e passou para R$
406 bilhões, (9,22% do PIB) no final de 2012.
Como o governo não tinha recursos suficientes para fazer essa
expansão de crédito via bancos oficiais, o resultado foi o aumento da dívida
pública.
A dívida bruta no Brasil pelo critério do FMI era de 68% do PIB no
final de 2012. Esse valor é o dobro da dívida pública bruta média dos 20
maiores países emergentes (33,7% do PIB). A dívida mobiliária do país
atualmente é de R$ 1,84 trilhão.
A conta do prejuízo tem sido bancada pelo Tesouro por meio de
repasses ao BNDES. O patrimônio do banco, por sua vez, encolheu 38% entre março
de 2011 e março de 2013, enquanto a média de cinco grandes bancos públicos e
privados registrou crescimento de 25%. É o que mostra levantamento realizado
pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV)
divulgado hoje pelo Estadão.
Do ponto de vista do resultado, essa forte expansão do crédito dos
bancos públicos não alterou a taxa de investimento no Brasil que continua
abaixo de 20% do PIB.
Enquanto isso, em 2006 o Brasil cresceu 4% e a inflação foi de
apenas 3,14%. Menos da metade da taxa de 6,7% registrada nos últimos doze
meses.
Nada é impossível na política, mas colocadas todas as cartas na
mesa, é possível dizer que o desafio de Dilma para 2014 é muito mais tortuoso
do que o de Lula em 2006.
Fonte: Assessora Democratas
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