terça-feira, 9 de julho de 2013

O martírio de Dilma



Até mesmo para fugir do tiroteio dos aliados que gritam “fora Dilma e volta Lula!”, marqueteiros e emissários do governo tentam passar uma mensagem de otimismo. Apostam que a presidente irá recuperar seus grandes índices de popularidade até outubro.

Invocam até a trajetória do ex-presidente Lula no mensalão, que após sangrar durante quase um ano, sagrou-se vencedor nas eleições presidenciais de 2006.

Mas ao apresentar esse tipo de análise, os ainda defensores de Dilma deixam de lado dois fatores fundamentais.

Um deles é político: mesmo com 39 ministérios, a base governista está esfacelada. Partidos como PP, PSB, PDT e mesmo o ultragovernista PSD de Kassab já recuam do apoio automático a Dilma em 2013.

A desarticulação política é tão grande que a presidente Dilma precisou divulgar, no último sábado, uma nota em que nega que fará uma reforma ministerial.

Mas a safra de más notícias para o governo vem principalmente na economia. Enquanto, a partir de 2006, Lula passou a se beneficiar do forte crescimento econômico e do consumo, a trajetória para Dilma parece estar descendente. Alguns índices do governo mostram isso com clareza.

A criação de emprego reduziu 48% em maio com relação a abril. Os 72 mil novos postos de trabalho são o pior resultado desde 1992. No acumulado dos cinco primeiros meses deste ano, segundo o Ministério do Trabalho, foram criadas 669,2 mil vagas formais de emprego. Isso representa uma queda de 23,7% frente ao mesmo período do ano passado – quando foram abertas 878 mil vagas

A indústria caiu 2% de maio em relação a abril. A queda atingiu 20 dos 27 setores analisados pelo IBGE.

A balança comercial registrou o pior déficit em 18 anos, de US$ 3 bilhões no primeiro semestre deste ano. As exportações somaram R$ 114,5 bilhões e as importações R$ 117,5 bilhões.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reduziu, quinta-feira passada, a previsão de crescimento da economia brasileira para 2% neste ano. A estimativa anterior era de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescesse 3,2%. O mesmo ocorre com a OCDE, que prevê mais crescimento para os EUA e países da zona do Euro e paralisia no Brasil.

A Bolsa de Valores de São Paulo encerrou o primeiro semestre com uma queda de 22,14%, o pior resultado para o período de início de ano desde 1972. Quando se leva em conta também o período de fim de ano, a Bovespa teve em 2013 o pior desempenho semestral desde 2008, quando caiu 44% no segundo semestre.

E para lidar com a situação, o governo deteriora ainda mais as contas públicas. Levantamento do economista Mansueto Almeida mostra que o governo tem esvaziado cofres para ajudar bancos públicos.

Em maio deste ano o volume emprestado pelos bancos públicos (R$ 1,23 trilhões) praticamente empatou com o volume emprestado pelos bancos privados (R$ 1,25 trilhões) e, nos próximos meses, os bancos públicos devem ultrapassar o volume de empréstimos dos bancos privados.

O total dos empréstimos do Tesouro Nacional para bancos públicos era de apenas R$ 14 bilhões (0,4% do PIB), no final de 2007, e passou para R$ 406 bilhões, (9,22% do PIB) no final de 2012.

Como o governo não tinha recursos suficientes para fazer essa expansão de crédito via bancos oficiais, o resultado foi o aumento da dívida pública.

A dívida bruta no Brasil pelo critério do FMI era de 68% do PIB no final de 2012. Esse valor é o dobro da dívida pública bruta média dos 20 maiores países emergentes (33,7% do PIB). A dívida mobiliária do país atualmente é de R$ 1,84 trilhão.

A conta do prejuízo tem sido bancada pelo Tesouro por meio de repasses ao BNDES. O patrimônio do banco, por sua vez, encolheu 38% entre março de 2011 e março de 2013, enquanto a média de cinco grandes bancos públicos e privados registrou crescimento de 25%. É o que mostra levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) divulgado hoje pelo Estadão.

Do ponto de vista do resultado, essa forte expansão do crédito dos bancos públicos não alterou a taxa de investimento no Brasil que continua abaixo de 20% do PIB.

Enquanto isso, em 2006 o Brasil cresceu 4% e a inflação foi de apenas 3,14%. Menos da metade da taxa de 6,7% registrada nos últimos doze meses.


Nada é impossível na política, mas colocadas todas as cartas na mesa, é possível dizer que o desafio de Dilma para 2014 é muito mais tortuoso do que o de Lula em 2006.

Fonte: Assessora Democratas 

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