quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Orlando Silva pede afastamento do governo e oficializa saída do Esporte


Em meio a denúncias, ministro deixa o cargo após reunião com a presidente Dilma Rousseff.

Orlando Silva não é mais ministro do Esporte. Ainda não há uma confirmação oficial de quem será o substituto, mas a "tendência", segundo o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, é que o secretário executivo da pasta, Waldemar de Souza, assuma o comando do ministério interinamente. Nesta quarta-feira, Orlando convocou a imprensa após reunião com a presidente Dilma Roussef, no Palácio do Planalto, e afirmou que pediu afastamento do governo.

Eu pedi o afastamento do governo. Decidi sair do governo para que possa defender a minha honra, o trabalho do Ministério do Esporte e defender o meu partido. Saio com o sentimento do dever cumprido. A injustiça está em calúnias ganharem ar de veracidade. Não há nada que possa me incriminar. Há 12 dias sofro um ataque abaixo e nenhuma prova surgiu nem surgirá - afirmou, reclamando das denúncias feitas contra ele (saiba mais abaixo).

Orlando deixa o cargo em meia a uma série de denúncias que levaram a uma crise no ministério do Esporte. O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, chegou a "demitir" Orlando Silva do cargo na última semana, em entrevista coletiva, ao dizer que esperava encontrar já um novo interlocutor do governo para discutir assuntos da Copa do Mundo de 2014 na visita que fará ao país em novembro. À época, a Casa Civil chegou a divulgar uma nota reafirmando que o ministro continuava sendo o interlocutor oficial para o Mundial.

A crise no Ministério do Esporte começou há onze dias com a publicação pela revista Veja de denúncias contra o ministro Orlando Silva pelo policial militar de Brasília, João Dias Ferreira. O PM disse à revista que Orlando Silva seria mentor e beneficiário de um esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo, que estimula a prática desportiva de crianças carentes. Segundo Dias, o grupo que comandava o esquema cobrava uma propina de até 20% das entidades que assinavam os convênios do programa. Um funcionário atual de Dias, Célio Soares Pereira, que teria participado do esquema chegou a afirmar à revista ter entregue dinheiro diretamente ao ministro.

Após a publicação, diversos veículos de imprensa denunciaram uma série de irregularidades nos convênios do programa, que beneficiariam principalmente o PC do B, partido do agora ex-ministro. O partido negou as irregularidades e afirmou que os convênios também foram realizados com prefeituras e estados de outros partidos. No último fim de semana, a Veja trouxe a transcrição de uma gravação que teria sido feita pelo PM em uma reunião com subordinados de Orlando em que teria sido discutido como fraudar um documento para que o ministério pudesse recuar em uma cobrança feita ao policial. O ministério abriu sindicância para investigar os dois servidores que teriam participado da reunião.

Defesa em vão

Orlando Silva manteve o mesmo discurso de defesa desde o princípio, quando concedeu uma coletiva em Guadalajara, no México, após a publicação da reportagem. O ministro negou qualquer irregularidade e participação em qualquer esquema e disse que só encontrou Dias uma única vez, à época da assinatura de dois convênios com entidades comandadas pelo PM. Segundo Orlando Silva, as denúncias feitas pelo policial seriam uma reação à cobrança do ministério de devolução dos recursos liberados para as ONGs de Dias. A Advocacia-Geral da União (AGU) chegou a impetrar, a pedido do ministro, queixa-crime por calúnia contra os denunciantes.

Com pequenas variações, foi esse discurso que o ministro fez em uma coletiva ao chegar ao Brasil e em audiências na Câmara dos Deputados e no Senado Federal na semana passada. Isso não impediu, no entanto, que a força política do ministro fosse diminuindo. Na sexta-feira, Orlando se reuniu com a presidente Dilma e recebeu apoio, mas as novas denúncias publicadas no final de semana voltaram a atingir o ministro. Diante do impacto negativo na imagem do governo, já afetado pela saída de cinco ministros - quatro em meio a denúncias - desde o começo do ano, Orlando Silva foi levado a deixar o cargo.

Ex-ministro

O agora ex-ministro Orlando Silva tem 40 anos. Natural de Salvador, começou a vida política no movimento estudantil. Foi presidente da União Nacional dos Estudantes na década de 90 e No governo Lula, atuou desde o começo no Ministério do Esporte. Foi secretário nacional do Esporte e do Esporte Educacional antes de assumir a secretária-executiva, segundo cargo mais importante da pasta. Em março de 2006 assumiu o ministério com a saída do atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.

A crise causada pelas irregularidades nos convênios do programa Segundo Tempo não é a primeira polêmica do período de Orlando à frente do ministério. Era ele o titular da pasta na realização dos Jogos Panamericanos de 2007, cujos gastos foram 10 vezes maiores que o previsto originalmente. Orlando sempre alegou que os gastos foram necessários e garantiram a vinda das Olimpíadas de 2016 ao Brasil. Já em 2008, o ministro devolveu mais de R$ 30 mil reais aos cofres públicos durante a investigação de possíveis irregularidades no uso dos chamados cartões corporativos. O ministro havia comprado uma tapioca usando o cartão e, diante da suspeita, optou por devolver aos cofres públicos todos os gastos feitos com o cartão no período. À época, Orlando Silva alegou que havia feito confusão ao utilizar o cartão.

Fonte: globoesporte.com


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