O deputado ACM Neto tece elogios à pessoa do prefeito João Henrique, diz que aceitaria seu apoio, caso viesse a ser alçado à condição de candidato único das oposições em 2012, mas diz não ter qualquer responsabilidade sobre a gestão de João. Isso, mesmo fazendo parte da administração da cidade, através da indicação de Cláudio Tinoco na Saltur. Nesta entrevista à Tribuna, Neto diz que a cidade não está preparada para a Copa e que se não disputar o Thomé de Souza no próximo ano, empreenderá esforços para brigar por 2014, fato que ameaçaria os planos do cacique peemedebista, Geddel Vieira Lima, que sonha em ver as oposições unidas em torno dele na sucessão de Wagner.
Tribuna – Existe prazo estipulado para definir o candidato das oposições?ACM Neto – De fato, nós queremos construir uma unidade entre os partidos que fazem oposição ao PT e essa conversa vem sendo cada vez mais intensificada porque eu entendo que a construção de uma candidatura comum da oposição pode, sim, tornar mais competitiva essa candidatura em Salvador. Agora, não existe um prazo, não foi definido um calendário entre os partidos. Agora é tempo de cada partido trabalhar suas pré-candidaturas. A eleição vai se intensificando na vida dos partidos, mas ela ainda está muito distante na cabeça das pessoas, na vida dos cidadãos. Então, é preciso ter um pouco mais de paciência, dar tempo ao tempo e, certamente, esse calendário só aconteça no ano que vem. Acho que agora seria prematuro ou precipitado chegar a essa conclusão.
Tribuna – Acredita que Mário Kertész vai se filiar ao PMDB para se tornar o pré-candidato do partido?Neto – Olha, aí é uma resposta que somente o próprio Mário pode dar. Ele é um nome de valor, é uma pessoa que foi colocada no processo político pelo PMDB. Inicialmente, foi através de Geddel (Vieira Lima) que o nome de Mário surgiu, acho que é positiva a inclusão dele nesse processo, contribui qualitativamente para o debate político, é uma pessoa que tem história e tradição na cidade. Agora, se ele vai se filiar ou não, é uma coisa que somente ele pode responder.
Tribuna – O senhor é nome forte para unir as oposições em 2012. O fato de se colocar para 2014 não confunde a cabeça das pessoas?Neto – Não. Primeiro, eu deixo muito claro que aquele que vier a disputar a prefeitura e ganhar a eleição vai ter que cumprir o seu mandato de quatro anos. Eu não enxergo nenhuma hipótese de alguém se eleger prefeito e deixar a prefeitura para concorrer ao governo. Agora, o que eu coloco é o seguinte: não posso ser candidato de mim mesmo, eu tenho que ser candidato de um projeto, de um grupo político e o que eu tenho tentado fazer é justamente estimular essa articulação na oposição. Não escondo de ninguém que o meu desejo é disputar um cargo majoritário. É evidente que, se esses partidos me convocarem para disputar a prefeitura de Salvador, eu aceitarei a convocação e pretenderei construir uma campanha vitoriosa para me eleger. Agora, se esse conjunto de partidos entender que o meu projeto deve ser o de disputar o governo, certamente disputar a prefeitura não será uma cogitação. Então, não é uma questão de confundir, é uma questão, pelo contrário, de deixar claro que é preciso ter definido qual é o projeto, mas que o projeto não é meu, o projeto tem que ser desse conjunto de forças políticas que a gente vem dialogando.
Tribuna – A dispersão da base de Wagner favorecerá a oposição em 2012?Neto – Favorecerá na medida em que nós tivermos a capacidade de nos unir. Eu acho que essa divisão na base do governador, que está evidenciada em diversas pré-candidaturas, pode ser um campo fértil para o trabalho das oposições. Na medida em que as oposições tenham juízo e maturidade para marcharem em um único projeto, por isso é que eu venho incentivando essa conversa entre os partidos que se opõem ao PT. É evidente que a eleição de Salvador é uma eleição que normalmente se resolve em dois turnos e uma coisa é o cenário do primeiro turno e outra coisa é o cenário do segundo. No campo das oposições, se nós pudermos estar unidos, a gente pode resolver essa eleição já no primeiro turno.
Tribuna – Como o senhor viu o flerte de Pelegrino com o Duquinho? Isso chegou a incomodar em algum momento?Neto – Não. De forma alguma. Eu acho que, pelo contrário, depois de combater a vida toda o senador Antonio Carlos Magalhães, de repente, agora, ele (Pelegrino), talvez, ache necessário buscar um familiar do senador, neto do senador, para, quem sabe, com isso, se tornar um pouco mais competitivo. Então, pelo contrário, eu acho que é uma rendição à força e ao potencial político da família Magalhães e, sobretudo, da figura do senador Antonio Carlos.
Tribuna – Como avalia a polêmica sobre a mobilidade em Salvador?Neto – Com preocupação. Primeiro, eu não acredito que o projeto do metrô da Paralela seja concluído em 2014, portanto, até a Copa do Mundo. Um governo que não foi capaz, em articulação com a prefeitura, de concluir um metrô de seis quilômetros em 12 anos, não vai ser capaz de fazer um metrô de 20 quilômetros em menos de três anos. Eu não acredito. Então, a primeira preocupação é com o calendário. A segunda é que essa quantidade tão grande de recursos, mais de R$ 3 bilhões, poderia resolver os problemas de toda a mobilidade da cidade e não apenas da Paralela. O problema do transporte, do trânsito, não está apenas na Paralela. Quem vai a Cajazeiras, por exemplo, sabe que atravessar o bairro de ponta a ponta pode levar mais de meia hora. Então, o problema do trânsito e do transporte nos bairros hoje é tão grave e tão incômodo à população quanto o problema nas avenidas principais da cidade.
Tribuna – Sua defesa então seria pela escolha do BRT?Neto – Eu não defendo esse ou aquele modal. Acho que, diante das opções que o governo tinha, o governo escolheu uma opção, a meu ver, equivocada. Mas principalmente - e aí eu faço uma análise crítica - porque, com a ineficiência, com a precariedade da gestão do governo de Jaques Wagner, eles não são capazes de tocar essa obra com a rapidez, a agilidade e a economia de recursos necessários. Disso eu estou convencido.
Tribuna – Salvador estará pronta para a Copa ou há o risco de vexame?Neto – Olha, antes de qualquer coisa, é importante que se diga que um dos principais legados a serem deixados pela Copa é na área de segurança pública. O outro é exatamente o legado na área da mobilidade urbana. Então, a Copa só vai ter servido a Salvador se Salvador puder ser uma cidade mais segura, mais organizada. Então, não adianta ter um estádio. O estádio, eu diria que é o menor dos desafios para a Copa. É preciso preparar a cidade como um todo, qualificar a mão de obra. Há um outro elemento importante, que é a questão do patrimônio histórico. Nós não podemos sediar a Copa com o Pelourinho do jeito que está. Não é admissível que você venha receber aqui delegações de quatro, seis ou oito países que vão visitar o Centro Histórico e vão ver o Centro Histórico abandonado, entregue à mendicância, com as lojas todas fechadas. Ou seja, (o turista) vem para cá e não tem um atrativo na cidade. Tudo isso faz parte do legado que a cidade tem que deixar. Se você me perguntar: 'Hoje Salvador está preparada para a Copa do Mundo?', não está.
Tribuna – E vai ficar?Neto – Eu espero que fique. Agora, para ficar, vai ter que haver uma mudança de postura e de comportamento das autoridades, tanto do governo do estado quanto da Prefeitura Municipal.
Tribuna – O próximo prefeito não terá muito pouco tempo para arrumar Salvador?Neto – Olha, pouco tempo é, mas tudo isso depende da capacidade de liderança, da dedicação, de uma gestão organizada, de uma equipe que foque e priorize. Eu acho, apesar de que é pouco tempo, que o próximo prefeito ainda vai ter um papel importante e decisivo na preparação da cidade para a Copa.
Tribuna – Qual a avaliação da atual gestão de Salvador?Neto – Salvador tem um problema histórico por ter pouca suficiência econômica, com uma das priores arrecadações per capta do país. Isso, evidentemente, gera um problema de natureza econômica e financeira da cidade, que é desigual, tem muita pobreza, mas é uma cidade que tem muitas oportunidades. E você não pode ter isso desperdiçado. Eu acho que a gestão de Salvador pode primar pela competência, pela eficiência, pela qualidade na prestação de serviços, com maior racionalidade no emprego do dinheiro. Hoje, eu acho que falta, sobretudo, a nitidez de parâmetros de eficiência. As gestões públicas modernas trabalham com controle de qualidade e com parâmetros de eficiência, remunerando aqueles que dão bom resultado, premiando aqueles que dão bom retorno. Eu acho que isso hoje falta à gestão como um todo. Então, veja que você tem aí desafios grandes. Em minha opinião, tem o desafio de melhorar o gasto público, e é possível você melhorar, gerando economias para a prefeitura. Acho, inclusive, que essa última escolha que o prefeito João Henrique fez do atual secretário da Fazenda gerou já uma melhoria nas contas da prefeitura, mas ainda há muito o que fazer.
Tribuna – Vai querer o apoio do prefeito João Henrique em 2012?Neto – Olha, eu já disse e quero repetir. Muitos torceram para que eu brigasse com João Henrique e eu jamais procurei seguir essa linha porque eu tenho uma relação pessoal de respeito com o prefeito. Ele é uma pessoa muito educada, gentil no trato e se ele quiser me apoiar, eu vou receber o apoio dele, caso eu seja candidato, é claro. Eu vou receber o apoio dele sem nenhuma dificuldade. Pelo contrário, aceitaria, sim, o apoio do prefeito. Acho que, claro, o governo é dele, a responsabilidade pela administração é dele, tive pequena colaboração na administração municipal, restrita apenas a essa área do turismo, com a Saltur, que é uma área que a gente deu uma contribuição com Cláudio Tinoco. Então, eu não tenho responsabilidade sobre a administração, porém, tenho uma relação cordial com o prefeito e se ele quisesse nos apoiar, eu não veria nenhum empecilho.
Tribuna – E a privatização do Elevador Lacerda? A iniciativa privada deveria ser chamada para participar mais das intervenções na cidade?Neto – Eu acho que a relação do poder público com a iniciativa privada em Salvador poderia ser muito incrementada. Existe hoje um tipo de operação que é muito aplicada em diversas capitais do mundo, que são as operações urbanas consorciadas. É uma espécie de PPP do município. Veja, por exemplo, o comércio de Salvador na Cidade Baixa. Você tem áreas degradadas, áreas que estão abandonadas, que podiam ser muito melhor aproveitadas, dar resultado econômico para a cidade, gerar emprego, melhorar a qualidade de vida das pessoas. Mas a prefeitura não tem recursos suficientes para fazer essas intervenções. O que é que ela tem que fazer? Chamar a iniciativa privada, ser uma facilitadora da presença da iniciativa privada, buscar os recursos que o governo não tem na iniciativa privada para daí gerar coisas boas para a cidade. A requalificação da nossa orla é outro exemplo claro. Não vai haver requalificação da orla sem a presença, sem parceria com a iniciativa privada. Você vai para o subúrbio de Salvador. Quantas áreas podiam ser aproveitadas economicamente, gerando empregos, gerando oportunidade para as pessoas. Tudo isso eu acho que passa por uma construção mais evidente da parceria com a iniciativa privada.
Tribuna – Falta mais capacidade de gestão ao prefeito João Henrique?Neto – Eu acho que o prefeito, ao longo de sua participação, fez algumas opções políticas e ficou muito preso a essas opções políticas. Eu acho que Salvador precisa de um prefeito que esteja menos preso às opções políticas e mais comprometido com o resultado da administração e da gestão. É claro que ninguém governa sem os partidos. Ninguém governa sem aliados, mas você tem que procurar conciliar a presença política com a qualidade administrativa e a eficiência da gestão. Eu, por exemplo, se um dia chegasse até a Prefeitura de Salvador, eu colocaria como prioridade fundamental a qualidade da gestão. Os interesses político-partidários ficariam em segundo plano.
Tribuna – O surgimento do PSD na Bahia pode se dar ao poder de articulação do vice-governador Otto Alencar ou ao desejo de adesismo dos políticos?Neto – Acho que à soma dos dois. Eu acho que foi a porta da infidelidade para alguns e por outro lado, a capacidade de articulação de alguém que é vice-governador, que é secretário de uma pasta importante do governo, consequentemente tendo a estrutura a seu dispor consegue atrair pessoas num ambiente político que é marcado pela síndrome do adesismo.
Tribuna – E quanto à sucessão de baixas no governo Dilma Rousseff (PT)? O quinto ministro já caiu. Onde está o erro?Neto – O erro está na origem. A Dilma é responsável pelas coisas que estão acontecendo. Quem assina o ato nomeando os ministros é a presidente da República. Com isso, esse troca-troca mostra a falta de critérios na hora de escolher seus auxiliares, prestigiando o fisiologismo e o toma lá dá cá. O critério fundamental na composição do governo não foi a qualidade, a competência e as condições de cada um para desempenhar suas funções, foram as indicações partidárias. Isso não pode acontecer. Quando eu falei, por exemplo, do desafio da Prefeitura de Salvador, eu acho que esse é um dos principais desafios. O próximo prefeito vai ter que enxergar os melhores quadros para compor seu secretariado, ele não vai poder simplesmente baixar a cabeça para os interesses partidários.
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