sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Descalabro nas agências reguladoras



As Agências Reguladoras foram criadas para ser um instrumento da sociedade para fiscalizar as empresas prestadoras de serviço.

Por meio delas, companhias telefônicas, fornecedoras de energia elétrica, empresas aéreas, abastecedoras de água potável precisariam andar na linha. Contratos não cumpridos? Multa, recisão e indenização.

As agências são uma maneira tradicional de proteger o cidadão em diversos locais do mundo. Nos EUA, por exemplo, a Food and Drugs Administration foi fundada em 1862. Nenhum alimento é comercializado lá sem aprovação dessa agência. No Brasil essa “inovação” chegou tarde, apenas na década de noventa.

Em tese, os cargos de diretoria das agências deveriam ter representantes do governo e da sociedade. Seriam técnicos com um currículo irrepreensível para observar com lupa o setor a ser fiscalizado.

Como o Partido dos Trabalhadores sempre olhou com desdém as agências, passou a desprezar os critérios de indicação por competência e a lotear politicamente esses órgãos. Ainda considera as agências “coisa do neoliberalismo”. Querem só o Estado no comando, não a sociedade em parceria com o Estado.

Apenas para citar um exemplo extremo, com o PT passaram a ser nomeados como diretores das agências gente como Marcelo Bastos, cartola do basquete, então assessor do ex-senador Wellington Salgado (PMDB_MG). Bastos tornou-se dirigente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Os exemplos não param por aí. O PC do B loteou completamente a Agência Nacional de Petróleo (ANP) e esteve por trás dessa legislação intervencionista para a área que resultou em um enorme imbróglio no Congresso Nacional. O movimento “Veta Dilma” contra a nova lei do petróleo tem a ver com o loteamento da ANP.

Antiga braço direito da presidente Dilma Rousseff, a ex-ministra Erenice Guerra tinha forte poder sobre a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). O PTB também tem cargos na ANTT.

Em 2006, a ANTAQ, encarregada de fiscalizar e regulamentar portos, setor responsável pelo fluxo de 95% do comércio exterior do país, ficou cinco meses sem diretor.

Tanto descaso, tanto loteamento das agências um dia teria como consequência o mais novo escândalo que envolve a ex-chefe de gabinete da representação da presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, e os irmãos Rubens Carlos Vieira, ex-diretor da ANAC, e o ex-diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira, apontado como chefe da quadrilha de tráfico de influência com tentáculos em vários ministérios do governo petista.

A propósito, além de não entender quase nada da pasta que comandava, Paulo Vieira é filiado ao PT, confira n’O Globo: http://migre.me/c711h

O esvaziamento das agências reguladoras não se limita à desmoralização por meio de nomeação de suspeitos de bandidagem e afilhados políticos para cargos de direção. Inclui também o estrangulamento financeiro.

Levantamento feito pelo Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI) do Democratas mostra que o governo Dilma tem repassado para as agências apenas cerca de 10% das previsões orçamentárias.

Para ser mais preciso, em 2011, primeiro ano de Dilma Rousseff como presidente, as agências receberam apenas 12,8% do que estava previsto no orçamento. Da dotação de R$ 9 bilhões, viram em seus cofres R$ 1,15 bilhão.  E esse valor inclui os restos a pagar depositados em 2012!

Este ano, dos R$ 9,1bilhões previstos, pingaram nos cofres das agências reguladoras apenas 732 milhões, o equivalente a 8%.

A baixa execução orçamentária nem mesmo é regular entre os órgãos. Por exemplo, este ano a ANP recebeu apenas 3,42% do previsto. Em valores, R$ 142 milhões em um orçamento de R$ 4 bilhões.

Já a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) recebeu somente 3,6% do valor reservado, o equivalente a R$ 74,8 milhões de um orçamento de R$ 2,08 bilhões.

A ANA, de Paulo Vieira, até que não foi relativamente tão mal: recebeu R$ 110,2 milhões em uma dotação de R$ 366 milhões (30,2%).

Agências funcionando dessa maneira, sem recursos e sem responsabilidade, têm como consequências aborrecimentos no cotidiano da população. Telefônicas ficam com mais liberdade para não honrar planos firmados com o cliente, concessionárias não fazem as obras necessárias nas estradas, os portos não têm condições de exportar mercadorias.

Que o novo escândalo pelo menos obrigue o governo a tratar as agências com mais seriedade.

Fonte: Imprensa Democratas

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