segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Entrevista do Deputado Federal ACM Neto (DEM) concedida ao site Política Hoje.




Aos 32 anos e no exercício do seu 3º mandato consecutivo como deputado federal, ACM Neto (DEM) lidera quase todos os cenários projetados pelas pesquisas de intenção de votos para prefeito de Salvador. Nas eleições de 2010, foi o deputado mais votado da Bahia, com mais de 328 mil votos – em 2002, quando se elegeu pela primeira vez, superou a marca dos 400 mil votos. Líder do Democratas na Câmara Federal, Neto foi apontado recentemente como o parlamentar baiano mais influente no Congresso Nacional, numa pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Também em 2011, ele foi o único da bancada da Bahia a receber o Prêmio Congresso em Foco, que destaca os melhores parlamentares do ano. Apesar de números e fatos favoráveis às pretensões de um potencial candidato a administrar Salvador, Neto prefere ressaltar a importância de as oposições se unirem e lançarem uma candidatura única à sucessão municipal de 2012. Nesta entrevista à jornalista Amanda Barboza, ACM Neto aponta o que seriam soluções para as áreas de educação, saúde e mobilidade urbana, diz que “não é certo” classificá-lo como “antigo adversário de Geddel”, comenta a perda de quadros do DEM, é diplomático sobre a gestão do atual prefeito - “João Henrique é um homem bom” - e sim, claro, critica o PT.

Política Hoje - O político ACM Neto se adéqua melhor à Prefeitura de Salvador ou ao governo do Estado?

ACM Neto - Quem está na vida pública, como eu, que fez a opção da política como sua principal alternativa de vida, tem que estar preparado para desempenhar o papel e cumprir as missões que a população lhe conceder. Eu sempre procurei, nesses 10 anos de trabalho político com mandato, me organizar, me preparar, me qualificar para ocupar um cargo majoritário, que pode ser tanto de prefeito quanto de governador. Agora, a decisão disso vai passar muito mais pelo sentimento das pessoas, pelo sentimento da população, que eu vou procurar aferir nesses próximos meses e então anunciar qual será a minha decisão.

Política Hoje - Será que os partidos da oposição podem abrir mão do interesse individual em torno do coletivo?

ACM Neto - Acho que não só podem como devem. Nós que estamos na oposição, que somos minoria, temos que ter primeiro maturidade, depois responsabilidade e, por último, temos que ter instinto de sobrevivência porque a sobrevivência de um projeto alternativo ao PT na Bahia passa por essa unidade. Acho que nós temos que procurar construí-la a todo custo. Pelas várias manifestações que têm acontecido, pelas várias declarações, mais até do que isso, pelas ações concretas que a gente vê do PMDB, do PSDB, e do Democratas, essa unidade vai ser alcançada sim.

Política Hoje - É possível que antigos adversários políticos possam se unir, como é o caso do senhor com o ex-ministro Geddel Vieira Lima?

ACM Neto - Não é certo classificar a mim e a Geddel como antigos adversários. Geddel foi adversário de meu avô, e vice-versa. A Bahia toda sabe que eles tinham grandes diferenças e não fizeram política juntos em nenhum momento. Já comigo, sempre tive uma relação de respeito com ele, nunca nos faltou respeito, mesmo quando estávamos em campos políticos opostos. Acho que existe uma coisa hoje que nos une, que é maior, mais forte do que qualquer problema do passado, que é exatamente esse compromisso com o futuro da Bahia, que ele tem e eu tenho. Como sempre tivemos uma relação respeitosa, e como agora nós queremos construir um futuro diferente para a Bahia, estamos juntos. E é uma aliança extremamente política, que as pessoas vejam com clareza e com transparência o que eu penso e o que ele pensa. São projetos complementares e que não teremos nenhuma dificuldade em caminharmos juntos.

Política Hoje - O Democratas tem sofrido perdas significativas nos últimos tempos. Isso acontece por conta de uma fragilidade partidária ou por conta do assédio governista em ampliar cada vez mais sua base aliada?

ACM Neto -
Isso acontece pela precariedade do sistema político brasileiro, que não consagra a fidelidade partidária, que não preserva a vontade do eleitor que se manifesta nas urnas. Se fosse para eu governar, o eleitor tinha escolhido Paulo Souto governador e Serra presidente, como escolheram Wagner e Dilma, eu tenho que fazer oposição. Só que infelizmente nem todos os políticos têm essa compreensão, enxergam dessa maneira, o que infelizmente faz com que essa síndrome do adesismo seja uma tônica da política brasileira. As pessoas acham que só é nobre a arte de ser governo, enquanto que na verdade se tem tanta nobreza quanto na arte de fazer oposição. Então, a diminuição dos nossos quadros deriva só disso. Se amanhã o Democratas ganhar a Prefeitura de Salvador ou a Bahia, sabe o que é que vai acontecer? O partido volta a crescer, volta a ter dezenas e dezenas de deputados, vereadores e prefeitos porque infelizmente a política brasileira é assim. E isso tudo só nos remete a necessidade de fazer uma reforma política de verdade que lamentavelmente não tem uma perspectiva de sair do papel.

Política Hoje - Diante desse quadro, como o senhor avalia a expansão petista?

ACM Neto -
Primeiro, o PT passou a existir pela força de Lula, pelo empenho de quatro eleições presidenciais até chegar a vitória e pelo seu estilo político muito pessoal. Acho que Lula é muito maior do que o PT, e que o partido cresceu na barra da saia de Lula e, de alguma forma, se mantém com o tamanho que tem hoje por causa disso. Na medida em que Lula chegou à Presidência [da República], usou a máquina de uma forma escancarada e acabou puxando número significativo de governadores, de prefeitos, de parlamentares. Evidentemente que tudo isso é um ciclo, a política é feita de um ciclo. Chega-se a um ponto que sofre da fadiga de material e aí a população escolhe mudar. Nós já fomos governo por muito tempo, sofremos essa fadiga de material e chegou a hora de perdermos para o PT, como perdemos. O PT já está aí governando há oito anos na Bahia, 12 anos nacionalmente, e eu vejo sinais claros dessa fadiga de material do PT, claríssimos, tanto aqui quanto em Brasília. O poder dele não é eterno, e na hora que voltar para a oposição, diminui de tamanho.

Política Hoje - O senhor acredita que o seu partido precise de uma oxigenação?

ACM Neto -
Todos nós precisamos de uma oxigenação sempre. Acho que ninguém deve ter a pretensão de se achar o porreta, ou que está tudo bem e etc. Pelo contrário. Eu acho que a gente tem que ter essa capacidade de fazer autocrítica e de buscar se renovar, se re-oxigenar a cada instante. Agora, que o nosso partido tem foco, tem rumo, sabe onde quer chegar, disso eu não tenho dúvida. E eu, particularmente, me sinto muito tranquilo com o desempenho do Democratas e com a perspectiva de futuro que o partido tem.

Política Hoje - Como é possível resolver o problema da Saúde em Salvador?

ACM Neto -
Com gestão qualificada e eficiente. É preciso hierarquizar os problemas de saúde e focar na atenção básica, na prevenção. O que se puder gastar, o que se puder investir em prevenção, é a coisa mais correta que se pode fazer. Quando falo também de gestão, falo em trazer parâmetros objetivos de qualidade para os aparelhos de saúde municipal, que hoje, infelizmente, a maioria deles não funciona, estão entregues a uma burocracia ineficiente. Estabelecendo padrão de qualidade e tendo gestão focada, tenho certeza de que se resolve o problema da saúde priorizando sempre a atenção básica.

Política Hoje - E quanto à Educação?

ACM Neto -
A educação segue a mesma linha. Mais uma vez o problema é de gestão. Na educação há um dado a mais que é a necessidade de você motivar os professores, de você recompensar aqueles que trazem resultados de aumento na qualidade do ensino. Cada escola, assim como cada posto de saúde, tinha que ser pensada como um único núcleo, com uma unidade, como uma empresa, que precisa ter metas. Hoje funciona dessa forma, mas amanhã, se melhorar a gestão, ele tem que ser recompensado por isso. Esses parâmetros de qualidade precisam determinar os serviços de educação e saúde. Na Bahia, em Salvador em particular, você não vê isso.

Política Hoje - O trânsito da capital baiana ainda tem solução?

ACM Neto –
Tem desde que Salvador retome a sua capacidade de planejar seu futuro. A cidade vem crescendo de forma desordenada e isso impactou principalmente no trânsito. Exatamente porque não há planejamento, não traz soluções de médio e longo prazo e vira esse caos que virou o trânsito de Salvador. Nesse caso, envolve também o aporte de recursos importantes. O governo do Estado fez a opção pelo metrô na Paralela [Avenida Luís Viana Filho], mas não adianta resolver só o problema da Paralela, partindo do princípio de que aquela obra vai ser feita, ainda assim registre-se que é uma obra que vai envolver muito dinheiro e talvez um longo prazo de execução. Só que hoje os problemas do trânsito de Salvador vão muito além da Paralela. Na verdade a Paralela é apenas um tramo que se tem da questão do trânsito. E isso passa pelo trabalho da tecnologia com inteligência, algumas soluções são mais caras, envolvem obras de infraestrutura urbana maiores, só que há soluções pequenas, simples, que podem ajudar o trânsito da cidade. Isso tudo passa por organização e planejamento.

Política Hoje - Quais os benefícios e prejuízos do crescimento da construção civil na cidade?

ACM Neto -
Se ela ocorre de forma a respeitar o meio ambiente, a preservar as áreas verdes da cidade e a não gerar um impacto desorganizador na questão do transporte e do trânsito, é bom porque a construção civil gera emprego, renda, inclui as pessoas na vida econômica e social. Então, é positivo o investimento na construção civil e no mercado imobiliário desde que isso seja feito respeitando o meio ambiente e, sobretudo, analisando o impacto que tem sobre o transporte, o trânsito, a mobilidade da cidade. A Prefeitura tem que ser muito criteriosa ao conceder uma licença para construir, examinando todos esses impactos. Agora, não pode ser um entrave para que a iniciativa privada invista, que é algo muito importante para a cidade.

Política Hoje - Salvador está bem preparada para a Copa do Mundo?

ACM Neto -
Na minha opinião, não. O menor dos problemas é o estádio e esse vai sair, está aí sendo construído com uma velocidade interessante. Agora, o legado que a Copa do Mundo tinha que deixar para Salvador, na minha opinião, seria em três direções: 1) Segurança Pública, porque não é possível que a gente não consiga diminuir a criminalidade até a Copa; 2) Transporte e trânsito; 3) Recuperação do nosso patrimônio histórico. Nesses três itens, a gente vê que a cidade está engatinhando ainda.

Política Hoje - Qual a sua avaliação da atual administração municipal?

ACM Neto - O prefeito João Henrique, que é um homem bom, um homem de boas relações pessoais, ele, na gestão, tem alguns acertos, mas também tem algumas deficiências. O próximo prefeito de Salvador vai ter que enxergar a Prefeitura para fazer um esforço extraordinário de retomar a capacidade de planejamento para o futuro, de melhorar a qualidade da prestação dos serviços públicos e também de dar auto-sustentação econômico-financeira para a cidade. Isso o prefeito demorou a entender, começou a fazer agora praticamente no final. Esse é um dos grandes desafios, se não for o maior desafio de Salvador: andar com suas próprias pernas, e a cidade pode obter esse resultado sim, pode alcançar esse propósito, mas precisa ter uma gestão de qualidade, eficiente, que planeje o futuro, que saiba gastar bem o dinheiro público, que evite desperdício, e que tenha uma capacidade de melhorar essencialmente aquilo o que importa para o cidadão e que cabe ao prefeito fazer. Salvador não precisa de um amigo do governador ou da presidente. Precisa de um bom prefeito.



Fonte: Politica Hoje

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